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Carlos Moreira: a arquitetura poética que filosofa

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    Górgias, Espinosa, Nietzsche

    *
    inventar o velho: de que serve
    a galinha rebotar o ovo
    o corvo gralhar de novo e sempre
    Nunca Mais como se fosse um cuco?

    desde o big bang é tudo assim:
    o mundo muda dentro de um segundo
    não há certeza: tudo é quase ou se:
    logo se transforma em ar o chumbo

    tudo se perde tudo se deforma
    só o nada além de nós reside
    somos o caos que do acaso aflora
    a lama podre em que o lótus vive

    o que sabemos dentro desta hora? 
    que tudo é fora e só o nada existe
    *
    um sol aqui trancado neste quarto
    e o escuro pelo mundo inteiro
    espinho e rosa e cristal de quartzo
    descansa a mão ao lado do tinteiro

    é um deus de merda e flor essa natura
    pandora louca de pernas abertas
    de fora adentro seu olhar devora
    o que é espinho rosa deus e merda

    acerta a lente sobre o olho esquerdo
    acende a vela sobre o mar do medo
    tudo está quieto agora aqui por dentro
    no quarto um sol decifra seu segredo

    descansa agora contra o mundo inteiro
    espinho e merda rosa deus tinteiro
    *
    como pode ser tão velho
    o tempo que nasceu agora?
    nasceu com ele esse medo
    do sol que brilha aqui fora?

    medo do acontecimento
    de nada acontecer na hora
    de nada acontecer a tempo
    de nada desfazer a trama?

    o mundo começou há pouco
    seu grande corpo transborda
    todos os vinhos do mundo
    todas as formas da forma

    como pode ser tão tarde
    a festa começada agora?                                                                                                                        

    Carlos Moreira: autor do livro Corpo aberto (Patuá, 2014), e Cardume (editora Valer, 2013), é poeta e compositor. Publicou também Evangelho Segundo Ninguém e Duas Palavras pela Edufro; Tetralogia do Nada pelo Clube dos Autores, Viagem de Cores e Sonhos, comemorando uma década de Festcineamazônia. Teve poemas seus publicados nas Revista Ciência e Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Revista GerminaRevista Expressões e Revista Blecaute. É autor de roteiros poéticos para filmes com Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis, entre eles os premiadosNada é Longe e Quilombage”. Esteve á frente do grupo Klan de performance poética e dos grupos musicais Odisseia e Caixa de Silêncio. É parceiro também dos músicos Júlio Rangel e André Maria no projeto Idílio Moderno.                                                              Fotografia: NASA


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