POEMA OBSCURO
Visto a roupa que o frio me cede
na tenda de lona que o sol escurece
cão não me falta faminto
bem me quer tequila mal as moscas
bem me quer a fúria mal o medo
bem me quer preconceito mal o ego
bem queria redimir dos erros.
OLHOS DE ANOITECER
Bati asas um morcego mudo mirando outra estrela
hora da cigarra não era mas se assusta
com o sopro de um pássaro grande entre as sombras que faziam um par de pés de fruta e folhas secas no caminho
Certo mesmo é que a dois segundos atrás a noite era menos, bem menos noite
e via um vaga-lume assim sem graça pousando beirando horta e bem no meio dela um espantalho
não ouvia fiapo de vento mas sorria, embora de lábios secos
mais secos que os do sapo, também pudera, estalava besouro vermelho na língua calejada das horas
Feito réu atônito confesso outro cochilo e uma pesada nuvem vem parir um grande vulto pra cima da lua, quase cheia, essa minha prata testemunha
Clareava a ponta da grafita no momento em que falava de avião pequeno passando brilhando a mil
resmungando ressaca em linha reta.
VIDA X MORTE
Aflora e desfalece muda
desdém compassado
ela que finta os desejos
ela que finta a cura
Quero álbum de retrato
a ginga dos teus braços
desvirginando os desejos
que me trairão um dia.
JULHO
Participo irrequieto da marcha
a fim de aguçar o marasmo do ar
preencho com graça os espaços
driblando meu medo em gingados
roço o para-raios parabolicamente
sempre serei papagaio raro
pipa no crepúsculo do mar
participante por um fio.
CONTRAPONTO
Se a vida é mergulho em mar de riscos
corro e faço da prancha barco a vela
se o veleiro não revela teu caminho
não importa, agora gotas me comportam
de sol, de sal sem que em teu caminho veleje
volto no vômito da onda ainda fria
do barco que era prancha faço um marco
se trafego com um colar de esferas
traço algo para arremeter na terra
se tropeço entre aterros no caminho
volto ao marco que mostrou pra vida
que o caminho do abrigo é placentário.
ALAN LUIZ COSTA é de Belo Horizonte, MG. Cirurgião- Dentista pela Faculdade de Itaúna tendo iniciado o curso em Uberaba-MG onde teve alguns textos publicados no Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social REVELAÇÃO e também no Jornal Correio Santarritense em Santa Rita de Minas. No campo virtual tem poemas publicados no Grupo Haikai.
É Apicultor nas horas "pagas".
Ilustração: Fotografia da Wikimedia Commons