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Ilustração: Gilad Benari |
2 segundos
O jogo, ou num
termo mais amplo, (e
por isso, mais vazio), a
vida. Ausência de
manual ou instrução,
aquele em que apenas
pras contas é certo
que vençam ao fim
ou ao meio. Não ignoro,
mas não me peça que acostume.
só a caveira conforma, conforme
fica comprovado numa tese que
por desleixo e ignorância
não cheguei a ler. Sei dos
ofícios e dos ossos, matéria
dura e que se encaixa não
sem muito custo, não
sem dor alguma. Mas
quero tardar um pouco
mais aqui fora ao
sereno, pela simples
gratuidade de nada
querer ser, saber ou produzir
- por dois, que seja, segundos-
e tentar reaprender uma verdade
esquecida da sujeira do
copo puído posto
-anônimo- num bal-
cão de fórmica azul; verdade
que cristal nenhum con-
tem.
A queda
Atravessar: tarefa difícil,
e falo de rua; da vida
não digo, não sei, é coisa
e falo de rua; da vida
não digo, não sei, é coisa
que suspeito que está, pois
estou. Estouro, a parte
mais frágil na queda:
estou. Estouro, a parte
mais frágil na queda:
partícula que se rompe
e que espaça a pele,
desligada de si sem
e que espaça a pele,
desligada de si sem
alterar o real, aquilo que
tem concretude e contunde.
Anjos não digo, mas a queda
tem concretude e contunde.
Anjos não digo, mas a queda
existe como sabemos, nós, que
ainda seguimos para o outro lado
da mesma rua buscando sabe-se
ainda seguimos para o outro lado
da mesma rua buscando sabe-se
lá se mais caminho,
sombra ou outro golpe
de ar.
sombra ou outro golpe
de ar.
Abat-jour
Entardece e desce
a pálpebra inteiriça
na janela em frente,
quase que um espelho
do outro lado da rua; a-
vizinhado já agora a
vaguidão
de uma hora
in-
certa na qual, dentro, os móveis
se trocam sem se tocarem - sequer-
deixando além do ruído a ecoar, ranhuras
no chão comum que nos leva
ao dia seguinte e ao próximo
equívoco disfarçado em sabe-
dor-
ia e coisa que a valha
ou quase, ou nada; a vala
por onde passa a luz,
abafada, máquina de
gerar vultos e vestígios
de corpos, penumbra
engatilhada, a mira mais
precisa:
o dia, a-
tingido em
pleno
pouso.
Charles Marlon Porfirio de Sousa é poeta e mestrando em Literatura Portuguesa – poesia contemporânea - pela Universidade de São Paulo- USP. Em julho de 2012, publicou seu livro de estreia, Poesia Ltda., pela editora Patuá e em junho de 2014 seu segundo livro, Sub-verso, também pela Patuá