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SUIÁ OMIM | 5 POEMAS

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Cy Twombly - Petals of Fire, 1989.



lomi

cocei teu sono
enchi três potes
puro arco-íris
desaguou pro texto
tombou no bombo
e nele repicou
sobraram três potes
vai existir no mundo
recipiente para tudo?




brilho

o impulso
encontra o lá
e o cá
no porto
o transatlântico
negro
chegou cedo
borbulhaste?
borbulhaste?
omitiu-se
trocando
olhares por
palavras
engasgadas
fortalecidas pelo
engenho dos
dedos
na nuca
(nunca mais faça)
implorou
mudo
muda
instante sólido
barreira
vincula
lua
de meio abraço
entrelaço
foz de purpurina negra




traqueia

a dobra agonizou
pro-teve-se de manifestos
o ócio indumentou
fermento
prisma translúcido
não viu
piu
pio
todos os homens do reino
todas mana, pense!
enquiskilhou-o no papel
comprimiu o novelo
calor sem tamanho
ensimesmou na sub
somou-se
ponderou-se
escapou-se da jetividade
tropeço que não cai
lovestory
não no final
no durante
trépido soluço
dos corpos
dos copos
espumantes




notório

para reginaldo saddi (in memoriam)
começou xingando a estagiária
da lama iria
desafirmar
ainda que lhe 
valesse mil repetições
virou mesa
e falou alto  
cantou em ira maior
pleiteou defesa
agiu
com veemência

vasculhou caixas-pretas
(nada mais que crânios)
alheias
arrependeu-se
suou
capitalizou

até que amarrou na sombra
um enorme
cavalo de madeira
e instalou-se
ali
na casa dos mitos




artista do sono

ê vai
século
e quartinho digerindo
modernismos

do banquete-espetáculo
muitos retalhos
retaliações
metamorfoses brutas
mato a dentro
vestígios de fogo
na lua do dia

não há sono
no pós-sexo
um desaba
outro acende
um livro
desperta
de vez
a fruta mordida
no assalto
à geladeira
quem sabe a matéria
mais chata do
único jornal
recente
não oferte sono

quando a própria ida ao jornaleiro
torna-se um sonho
cotidiano
(o jornal recente
de cinco dias atrás)

na viagem
olho no trecho aberto
cerrado
estrada perfeita
as a long way
um som
auscultado
very dentro
corpo-mente
agentes diretos
projetantes
debaixo da cachoeira
silêncio
o som desnudo do fogo

leve a fita métrica
sempre que for
à praia
junto a uma bússola
naturalmente
o mar pode te chamar

meros autoenganos
as tentativas de fugir
da (in)sônia
tal qual
funcionário do circo
que mantém-se
acordado há 208 noites
mais precisamente
sem
dormir
bailando
traçando livros
banhando
escrevendo terrorismo
ou mordicando
frutinhas
pequenas

artista do sono
pois que
a fome
lhe cabia
nos olhos
ainda
iluminados
sorridentes
sob uma tenda
de maracujá
infantes formigas

vem de dentro
a latência de pular
da cama
misturar-se
ao vento
quem sabe
uivar diante
dos espetáculos
da lua
&
do nascer
do sol
sustentar o estandarte
do cordão dos errantes
poetas
almejantes da dormência
do não dormir

agora
jogado
no futon
e não
numa
cama de pregos
sonha com
o oriente
invertido





Suiá Omimnasceu no Rio de Janeiro (RJ). É poetisa, antropóloga e professora da Universidade Federal do Tocantins. Atualmente, prepara a edição de seu primeiro livro de poemas.

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