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Ilustração: White gause, Robert Mappletorpe |
AS PESSOAS QUE NÃO ENTENDEM DE SEXO
as pessoas que não entendem de sexo
e suas categorias:
trepar
fuder
meter
fazer amor
é que são vadias
as pessoas que não entendem de sexo
e suas peculiaridades
e seus múltiplos lugares
é que são vulgares
as pessoas que não entendem de sexo
que não é de 50 tons de cinza
mas das prosas
e das poesias
de Hilda
é que são vazias
as pessoas que não entendem de sexo
que não é só papai-mamãe
mas também papai-mamãe-vizinhas
um chefe e dois garotos, talvez aquela sua tia
é que são mesquinhas
as pessoas que não entendem de sexo
não veem que o nexo
do eixo entre o céu e a terra
é este seio
de palavras
para chupar
que deixo
pois
a poesia que não fode e
não goza
não rima
toda palavra que pode
já a poesia que fode
num gozo profundo
que não é só vida
- espermatozoide -
encontra sentido
neste mundo
invertido
as pessoas que não entendem de sexo
e suas categorias:
trepar
fuder
meter
fazer amor
é que são vadias
as pessoas que não entendem de sexo
e suas peculiaridades
e seus múltiplos lugares
é que são vulgares
as pessoas que não entendem de sexo
que não é de 50 tons de cinza
mas das prosas
e das poesias
de Hilda
é que são vazias
as pessoas que não entendem de sexo
que não é só papai-mamãe
mas também papai-mamãe-vizinhas
um chefe e dois garotos, talvez aquela sua tia
é que são mesquinhas
as pessoas que não entendem de sexo
não veem que o nexo
do eixo entre o céu e a terra
é este seio
de palavras
para chupar
que deixo
pois
a poesia que não fode e
não goza
não rima
toda palavra que pode
já a poesia que fode
num gozo profundo
que não é só vida
- espermatozoide -
encontra sentido
neste mundo
invertido
FAMÍLIA CLASSE C
A família classe C
está sempre ocupada
mais que a classe média
que contrata encanadores
A família classe C
delega ocupações
à mãe toda a limpeza
ao pai os consertos rústicos
ao filho os aparelhos tecnológicos
à filha as brigas com a mãe
Passam o dia todo ocupados
com a casa que um dia vai ser bonita
O filho lava o carro
do pai
A filha passa esmalte
em casa
A mãe vai ao salão
da esquina
E o pai toma Skol
aos sábados
E lá no quarto mais escondido da casa
o filho caçula
ovelha negra da família
escreve poemas urgentes
Entrementes,
querendo ser gente
está sempre ocupada
mais que a classe média
que contrata encanadores
A família classe C
delega ocupações
à mãe toda a limpeza
ao pai os consertos rústicos
ao filho os aparelhos tecnológicos
à filha as brigas com a mãe
Passam o dia todo ocupados
com a casa que um dia vai ser bonita
O filho lava o carro
do pai
A filha passa esmalte
em casa
A mãe vai ao salão
da esquina
E o pai toma Skol
aos sábados
E lá no quarto mais escondido da casa
o filho caçula
ovelha negra da família
escreve poemas urgentes
Entrementes,
querendo ser gente
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Ilustração: Nan Goldin |
ANTIPOEMA
quero um poema vulgar
sem ser sexy
um poema de mau gosto
avesso ao cânone
um poema de todos
e de ninguém
um poema sem metafísica
sem transcendência
um poema que não aspire à lua
e sim à picas e xotas
um poema sem seriedade
que brinque apenas
sem rima sem métrica
sem ritmo sem teoria
um poema que não queira
ser poema
um poema que não fale verdade
e não invente mentiras
um poema que tire a roupa
me beija na boca
me ama no chão
sem ser sexy
um poema de mau gosto
avesso ao cânone
um poema de todos
e de ninguém
um poema sem metafísica
sem transcendência
um poema que não aspire à lua
e sim à picas e xotas
um poema sem seriedade
que brinque apenas
sem rima sem métrica
sem ritmo sem teoria
um poema que não queira
ser poema
um poema que não fale verdade
e não invente mentiras
um poema que tire a roupa
me beija na boca
me ama no chão
POEMA ALMOÇO
o meu avô dizia que a poesia
na roça
na roça
era coisa de bicha
a minha avó sim
a minha avó sim
era transgressora
escrevia um poema
no lugar da louça
e eu que sou do novo século
assalariado mal pago
escrevo poemas no almoço
do chefe
e assim me vingo
à noite
dedicando o poema
a um moço
escrevia um poema
no lugar da louça
e eu que sou do novo século
assalariado mal pago
escrevo poemas no almoço
do chefe
e assim me vingo
à noite
dedicando o poema
a um moço
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Ilustração: Duane Michals |
QUERIDA AMIGA
(inspirado no poema “querida angelica” de Angélica Freitas)
querida amiga não pude ir a sua festa
meu cabelo ficou preso ao secador
estou nu com os bombeiros
tentando resolver a situação
querida amiga não pude ir a sua festa
o ex-namorado do meu ex-namorado
me ligou e estamos
na Associação de Ex-Namorados Anônimos
fazendo testes de livre-associação
querida amiga não pude ir a sua festa
me apaixonei por um ativista
estamos resgatando Beagles
num instituto de pesquisa
me procure amanhã nos jornais
querida amiga não pude ir a sua festa
fui sequestrado para o tráfico sexual europeu
estou digitando este e-mail
às margens do rio Sena
acho que quero ficar
querida amiga não pude ir a sua festa
na verdade estou sem dinheiro
o Santander me comeu até os joelhos
por amizade deposite na minha conta
se puder
querida amiga não pude ir a sua festa
meu cabelo ficou preso ao secador
estou nu com os bombeiros
tentando resolver a situação
querida amiga não pude ir a sua festa
o ex-namorado do meu ex-namorado
me ligou e estamos
na Associação de Ex-Namorados Anônimos
fazendo testes de livre-associação
querida amiga não pude ir a sua festa
me apaixonei por um ativista
estamos resgatando Beagles
num instituto de pesquisa
me procure amanhã nos jornais
querida amiga não pude ir a sua festa
fui sequestrado para o tráfico sexual europeu
estou digitando este e-mail
às margens do rio Sena
acho que quero ficar
querida amiga não pude ir a sua festa
na verdade estou sem dinheiro
o Santander me comeu até os joelhos
por amizade deposite na minha conta
se puder
POETA É A PUTA QUE O PARIU
sou poeta de quinta categoria
não fiquei no claustro
limando a escrita
fiz minha poesia nas esquinas
vendo as putas sendo pagas
por homens sem amor
minha poesia não tem rima
é a vida torta
um horror
sou poeta de quinta categoria
não fiquei no claustro
limando a escrita
fiz minha poesia nas esquinas
vendo as putas sendo pagas
por homens sem amor
minha poesia não tem rima
é a vida torta
um horror
Bruno Latorre, 25 anos, mora em Votuporanga, interior de São Paulo, e escreve poemas, contos e crônicas. Tem trabalhos publicados na revista eletrônica Germina, no complemento online do jornal Opção, no projeto Escritoras Suicidas, participou da antologia poética sobre as manifestações ocorridas no Brasil chamada “Vinagre – uma antologia de poetas neobarracos”. Além de ficção, também escreve resenhas de livros para revistas e artigos de opinião para jornais locais de sua cidade.
E-mail para contato: brunolatorre89@gmail.com