demorei pois as paredes denunciaram umidade
e tratei de recolher roupas brancas enquanto pensava em suas feridas.
por algum momento parecia que as manchavam de vermelho
as mãos excitantes
rubro rei midas
performer entre os varais
contemporâneo nisso de sempre
substituir pele por lençóis
a última festa me machucou muito
***
das mulheres da minha família sou a sem dente, demente que dá sem pedir. das mulheres da minha família sou a mula, três cabeças, mãe, filha e aborto. a que não existe e, portanto, santa. das mulheres da minha família sou a que mareja, prima
bastarda que nunca casou, seis seios, vinte ventres e o dom de parir. das mulheres da minha família sou a tireoide, almofada que sufoca desdemona muito mais que a mão
do mouro. a guerreira que enfia a lança na boceta, empalada, e brinca com a úvula.
bailarina leprosa, geni coprofágica, a
bosta. sou todas, a que já foi ovelha negra e hoje é coiote. pagu sem tribuna, das mulheres da minha família. a unha inexistente do dedinho
de minha mãe. das mulheres da minha família sou a real, de carne-osso & falo. o nódulo na mama e o nódulo
na oração. a boca que regurgita vergonhas e boqueteia o tio paralítico. maria, chica da silva, a ninguém. das mulheres da minha família sou a
morta. o álbum e as fotografias na parede. das mulheres de minha família sou a que sabe ser mulher e a que sabe não ser da família.
***
o santo baixô. capeta, pomba-gira ou qualquer outro troço que compreenda seu sincretismo. rodopiô doidivanas três vezes. três foi igual os clarão, tupã e ira, haicai prosopopéia. quem viu sabia que não era humano. instinto doente, veado que corre pra boca do lobo. deu três passos e encharcou-se. o pano era fino e as tetas despontaram. teta que aponta pro norte. teta-bússula. convulsiva, babava abundância. oi que chama. chama, chama. chama forte. azul-vermeia feito butijão. ria-cadela, mordia. os boca-aberta que via expunha uma uvula estarrecida. um pé pra frente, castraram. deixa, deixa. deixa que nem padre resolve. clarão em cima do jatobá, os gai retorcia. bruxelava. bruxa, bruxa. retorcia e lambia a própria buceta. caiu e ficô. num teve mais constância de gente. virou enxurrada. suja, suja. diz que corre até hoje.
buquê de aberrações
um anjo debochado de aleijadinho torto por ser barroco,
a mãe dedicada que masturba o filho sem braço.
um ascendente de morte
na mesma casa de meu signo.
o cigarro de uma bailarina litúrgica,
a bulímica cristã que vomita a hóstia
e seu vômito furta-cor.
aquele retrato em sépia
que sorri enquanto rejuvenesce.
wilde, lorca, kahlo,
você