O homem de Aran
deus e o mar de aran
branco raivoso - ireland’s tides
indomável deus rebeldia bruta
que açoita rochas e crianças
deus tem um elemento de amor
este elemento raro
fecundado em chão de algas
clama sóis e estações gentis
e paciência e força
na terra onde cadáveres repousam
não nasce amor
esta matéria ignorada
necessita oceanos montes e atrito
amor é semente de angústia
que floresce em estrelas
– de céu mar e pedra -
centelha de cassiopeia
**
Não me emociona a crisálida
Não creio em ressurreições
Não anseio passagens
Creio no homem roto
O homem - quase fera -
Primata sempre à espera
Da primavera em Pasárgada
Não me emociona o Cisne
Dei para amar os corvos
É mais sublime o feio
O triste
Bem mais belo Quasimodo
E seu enlouquecido sino
Que todos os véus
Das bailarinas de Degas
**
Pois ele se alimentou do mel da eternidade
E bebeu o leite do Paraíso.
Samuel Taylor Coleridge
enquanto a aurora não te deposita ao meu lado
minha roupa um xador
tecido além-mar
espera pelo dia
em que cruzaremos os portais de xanadu
o palácio de verão de kubla khan
como quem adentra um poema de Coleridge
e mergulha em perfume exótico
de árvores de incenso
e florestas líricas
xador da cor dos teus olhos
e espera da cor da tua pele
apenas isto me abraça
enquanto sonho
as estradas descortinadas
onde
“as damas com saltérios
e domos ensolarados feitos de gelo”
anunciam nosso novo éden
e teu beijo e corpo trarão as delicias
– “mel da eternidade e leite do paraíso”
**
Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos
Emily Dickinson
Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
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Imagem do documentário de Robert J. Flaherty. – O homem de Aran – do site Sela de Prata.
Bárbara Lia (Assaí, Brasil, 1955) é Poeta e Escritora. Publicou nove livros (poesia, romance e contos). Destaque em vários Prêmios Literários, entre eles: SESC, UFES, Helena Kolody e Newton Sampaio. Integra várias Antologias, entre elas: O que é poesia? (Confraria do Vento), O melhor da festa - 3 (Festipoa), Amar, verbo atemporal (Rocco), Arqueologia da Palavra _ Anatomia da Língua (Literatas - Maputo) e Fantasma Civil (Bienal Internacional de Curitiba). Vive em Curitiba.