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5 POEMAS DE GERMANO VIANA XAVIER

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A CASA AZUL


Frida Kahlo de branco
sem sangue de mortes
mas com vermelhos de paixão
na umidade lactante dos seios
- real casa de se morar

quem, em sã engrenagem amante,
não esticaria em sucção os lábios
perante a exótica mulher em pele?

(entro no mesmo bonde
o trem vem vindo varando ventos
a força é a de um deus invertido

meu corpo fuçado
invadido estou no chão
perfurado sou)

a exótica mulher me atravessa
uma dor só

um golpe
um ferro retorcido no meio do sexo
abrindo vazão para amor inda maior





A FLOR NA FLOR
(todas as fêmeas aragonitas impostoras descambam
na imagem do seu jardim de delícias)


em você há brotada uma flor
de carne orvalhada desde a boca
operando úmida ao movimento
das vontades de estame

é uma flor única
de grandes pétalas dobradas
cujo pólen se liquefaz
em mel viscoso

(para a boca
a sede é antiga)

o beija-flor em planos segundos
pousado sobre a imagem da Beleza
descobre o mistério da rosa-vulva
e célere logo opera o androceu milagre

o pequeno pássaro se agiganta
ao tocar com o bico o botão ancestral
magma-lava branca sem menosprezar
ares desce o canal dos desejos

em tal instante
a flor é para a língua
um cultivo de rotas




AINDA SOBRE TEUS SEIOS


se a gota escorre desde a nuca
tornando o cabelo uma seta negra
colada aos nus do corpo

se se dobra em volta e num retorno
pela foz do pescoço faz divisa
com o frágil ombro

vai dar a regar os rotundos balões
da mulher em flor
a água

a gota dela arrecadará a velocidade
suficiente para parar
no agudo botão em ponta
no meio do círculo matricial
cor de menina

a gota faz-se de boca-lábios
permanece altiva e em doce contato
como em invertida levitação




O PÃO E AS RENDAS


o pão
- ou a maçã que alimenta -
fermenta por debaixo
das pequenas dobras da carne
das suaves rendas brancas

é líquido o pão
é líquida a maçã

rio de água de sabor agreste
sentido fluido por entre lábios

a apurada correnteza
os lacrimais suores das coxas
o naufrágio das línguas

o pão




O ANTES DAS FLAUTAS


agora é assim:
uma janela para o labirinto
lá embaixo onde tudo se perde
nos passos sem orquestra
da multidão

(um chão em silêncio)

veja bem:
quando o olhar direciono
em nome de tua seda-pele
pense que daí por diante
sortes simpatizem regências

pressuposto:
o tocador de flauta
naipe de madeira apesar
do metal moderno (mais frio)
não toca sem estar convicto
das altas temperaturas

conclusão:
é doce a verdade na vontade
e muito tempo faz ajuntar na gente
uma música inteira de paixão
noutro livro fechado que de longe
é bem estória de adivinhação




Imagem: pintura "Coluna Rota" (1944), de Frida Kahlo



*    *    *





Germano Viana Xavier, 30, é mestrando em Letras pela Universidade de Pernambuco - UPE e pós-graduando em Ensino da Língua Portuguesa pela FAFICA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru - PE. Possui graduação em Jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB e em Letras/Português e suas Literaturas pela Universidade de Pernambuco - UPE. Blog do autor.




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