No último dia 01/11, véspera de Finados, na histórica cidade de Morretes (PR), no My House Restaurante Panorâmico, realizou-se o Recital Fileto, em homenagem a Rocha Pombo e ao movimento simbolista local e brasileiro. O evento, dividido em duas partes, contou com a participação dos coletivos Escritibas e Meninas que Escrevem em Curitiba, além de poetas de mallarmargens revista de poesia & arte contemporânea e, evidentemente, dos demais que quisessem participar. Durante o evento, a poeta paranaense Andréia Carvalho lançou a obra Grimório de Gavita (Selo Maçã de Vidro, 2014) e Eduardo Capistrano lançou o livro Adolpho Werneck – Vida e Obra (publicação independente, 2012), resgatando a poesia de seu bisavô simbolista e morretense.
O evento iniciou-se com uma roda de conversa sobre “A Poética Simbolista e seus Espelhamentos Contemporâneos” entre Caio Cardoso Tardelli (SP), Eduardo Capistrano (PR), Ivan Justen Santana (PR) e Marcelo de Angelis (PR). Entre as temáticas discutidas pela mesa, estavam o desafio que a leitura do Simbolismo traz aos leitores – mesmo aos já acostumados com a estética – por ser uma poética do mistério e da sugestividade, e como, diante dos diálogos com as diversas áreas da arte, as novas regras ortográficas acabaram por diminuir a beleza visual e simbólica de alguns poemas (trocando, por exemplo, o figurativo abysmo, com o Y representando a própria palavra,pelo comum abismo). Acerca dos espelhamentos contemporâneos, foi discutida a pormenorizada duração do movimento, normalmente compreendida entre 1893-1911, mas que, em uma análise sem concessões a poetas inferiores, pode ser disposta até o fim da década de 30, justificando o deságue amplo e vário na poesia contemporânea.
Após essa importante roda de conversa, principiou-se o recital em si. A poesia contemporânea, representada pelos poetas participantes dos coletivos, unidos aos que vieram de outros estados e aos independentes, dialogou com a poesia simbolista de Cruz e Sousa, Silveira Neto, Onestaldo de Pennafort, Augusto dos Anjos, entre outros. E, finalmente, simbolizando a harmonização com as outras artes, houve ainda a dança mística de Marlene de Oliveira.
A realização do Recital Filetofoi condizente com o momento histórico-literário pelo qual passamos. Sente-se já a necessidade de buscar os autores muitas vezes deixados de lado por processos seletivos e que, pouco a pouco, por convenções não raramente antigas - e apesar da importância desses artistas para a construção dos rumos da literatura brasileira – acabaram no ostracismo; foi condizente pela vindoura chegada da revista Lausperenne, que será editada por Andréia Carvalho e Caio Cardoso Tardelli, e cujo intento será unir o Simbolismo de outrora com a produção neo-simbolista e pós-simbolista da poesia contemporânea; foi condizente pela publicação do livro A Torre Invedada – Vinte Ensaios Sobre o Simbolismo Brasileiro (Selo Maçã de Vidro - no prélio), de Caio Cardoso Tardelli. O Recital Fileto, portanto e sobretudo, confluiu para o que parece ser um movimento crescente na literatura brasileira; e por isso mesmo não há motivos para que tais encontros e discussões – sejam em Morretes ou em outras localizações importantes para o Simbolismo brasileiro – não ocorram com cada vez mais repercussão e relevância.
Andréia Carvalho e Caio Cardoso Tardelli
As fotos do evento podem ser visualizadas no ábum Recital Fileto