2 poemas da boca
(i)
na boca do lixo a puta que pariu
naquele dia tomou uma cachaça
e três facadas lá no bar da frente
a boca sujou sangue e uma crente
a vossa glória meu jesus implora
ela está morta ó soldado santos
matai o elemento e ele matou
pela fé de cristo o malfeitor
e glória ao senhor que faz
a obra do bem
amém
U
aliás
aqui jaz
Jasmin Jessica
a filha da puta
antimorta não morreu foi natimorta
aqui jaz
Jasmin Jessica
a filha da puta
antimorta não morreu foi natimorta
(ii)
(||||||||)
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era quase carnaval e a garupa
da puta era palus/tre e tatuada e ela
cantou cheirada estandarte estarei
no puteiro por inteiro quem me dá
um tiro uma pedra eu dou tudo
até o cu eu dou estou cabaço
aí então entrou o gigolô e ele
também travado ele quebrou
uma garrafa no balcão
e com um caco de coca cola
a goela dela ele degola
Nota do Editor: publicado inicialmente aqui.
* * *
§
caralho minha mãe na terra quando
eu nasci ela gemeu e deitou sangue
pela natura minha mãe arregaçada
num planeta pardo me parindo rindo
a porra do perdão os filhos deste solo
soluçam tanta merda minha mãe na terra
§
ouviram minha mãe do outro lado
sua praga me parindo quando rindo
um doutor metendo a mão já me tirava
do buraco do embigo e num só brado
minha avó gerava a reza salve salve
a puta que pariu ó silva e souza
perto minha mãe do teu cu preto
nasci teu filho entre pentelho e peido
§
abre as pernas minha mãe a liberdade
liberdade não tem asa não avua
o azar e sua uva ó pátria amarga
ó vulva divulgada quando morde
ou dorme no teu seio a clava forte
verás foda falida e teu afeto já
era minha mãe a liberdade
Nota do Editor: publicado inicialmente aqui.
* * *
. quem tropeiro de que palavras
. quem que de palavras tempeiro
. de quem palavras que eu pé defumo
. quem de palavras se arma sem arma
. dura de couro quem vem de nagô
. quem fala de nunca com olho mais oito
. palavras de não que eu pé defumo
* * *
a ferrugem
corrói a espada
mas não a luta
lenta
a ser lutada
(corrói a espada
mas não a estrela
nuvem
a ser sonhada
mas não a ira
arma
a ser empunhada)
a ferrugem
corrói a espada
mas não a busca
muda
de outra espada
(corrói a espada
mas não a mão
implume
que a traz alçada)
a ferrugem
corrói o canto
e a espada
mas não a luta
lenta
a ser lutada
Nota do Editor: publicado inicialmente aqui.
* * *
sem querer cairá a fruta ou é porque
amor orbita grave e leva o mundo e traz
o corpo onde o outro e muda o mar e por
amor te bebo água mudo semeio sêmen já
na fruta do teu ventre nua e por que é
que voa ave e nave é amor que faz
a fala do homem aqui a fruta cai
Nota do Editor: publicado inicialmente aqui.
* * *
o morte um coiso surdo
vírus de tudo esquísito
esquécido úrubu só
Nota do Autor:morteé bicho masculino, sim senhor; dizem que um dia o morte já foi gente; eúrubu, bicho que avoa e também já foi gente, se tiver acento é só no começo.
* * *
s'entrepõe entrepão poesir
b'hinegro que salga: sol
à mão va(lha) por-se o coisir
Nota do Autor: não é poesia, é coisa de visitante de padaria espiritual;
Nota do Autor: [...] a referência é o cego d'odisséia - o porqueiro eumeu, fiel àquel'ulisses.
Nota do Editor: poemas acima enviados por souzalopes, por carta (1995), para Ronald Augusto.
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ATENÇÃO!
LEIA TODA A HOMENAGEM A SOUZALOPES
[parte três: 9 poemas esparsos]
* * *
Nascido em 12 de agosto de 1954 em Recife, Pernambuco, Mário Luiz de Souza Lopes - ou simplesmente, Souzalopes - foi cedo para as terras grapíunas, onde chegou aos sete anos de idade, radicando-se em Itajuípe, Bahia. Sua infância e adolescência, passadas a beira do Rio Almada e no bucolismo do perímetro das Terras do Sem Fim, título do famoso livro de Jorge Amado (que retrata a briga pelas terras do Sequeiro Grande, em Itajuípe), formataram a base deste poeta, advogado e crítico literário, graduado em Direito pela antiga FESPI, hoje UESC nos idos de 1970. Era um devorador de livros e desde cedo manifestava, na verve poética, a irreverência e a aversão aos academicismos literários. Radicou-se em São Paulo desde 1982 até a sua morte, no primeiro semestre de 2012. Teve 3 filhos: Bárbara, em 1978, Iara, em 1980 e Luiz Guilherme, em 1984. Souzalopes publicou poucos livros, artesanais, distribuídos aos amigos. CONFIRA OS LINKS ABAIXO. Apesar de desconhecido na Bahia foi militante ativo em vários movimentos de contracultura, em jornais e revistas nacionais. Com o Grupo Cultural Cacoré, realizou um Seminário de Poesia na Capital Paulista. Souzalopes escreveu para a Revista Brasil Revolucionário, onde publicou o Manifesto do Partido Comunista em Cordel. Faleceu em 28 de maio de 2012. Os familiares e amigos fizeram, no dia 12 de agosto de 2012, na Vila Malva, uma Cerimônia Póstuma onde as cinzas de Souzalopes foram depositadas sobre as águas do Rio Almada, conforme o seu último desejo. Agora, a convite de mallarmargens, amigos pessoais, agregados e admiradores da obra poética de Souzalopes, até então conhecida por pouquíssimos, pretendem conferir mais visibilidade à produção do artista. Vale lembrar a iniciativa pioneira do amigo pessoal Eduardo Miranda*, que publicou eletronicamente parte da obra do poeta, de onde foi extraído o texto "ferro & carcoma", nunca publicado, que ganha versão simulada de um livro real. Souzalopes também deixou poemas esparsos publicados aqui e ali em revistas de papel e esquinas da internet e o volume inacabado "ÕIO", uma colagem de poemas dos livros anteriores. Também citamos a importância do Espaço Cultural Mané Garrincha pela preservação, reunião e divulgação da obra do poeta. A partir de hoje, mallarmargens pretende lançar luz sobre a obra deste artista, até então pouco valorizada, estudada e entendida pelo Brasil afora. Evoé Souzalopes!
OBRA DISPONÍVEL ONLINE [via ISSUU]