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3 contos de Artur Rodrigues

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Ilustração: SENSUAL-Lux by onewordphoto



O ato de riscar um palito de fósforo 

Fiquei trancado em casa por meses, alimentando-me só quando estava prestes a desmaiar e bebendo até cair inconsciente. Com exceção do quarto onde eu passava quase todo o tempo, tudo estava como Isabel deixara. As chaves dela, uma xícara de café pela metade, um jornal velho e uma caixa de fósforos estavam na mesa onde ela costumava passar horas ouvindo música e escrevendo poemas que não mostrava nem a mim. Peguei o jornal da manhã em que ela me deixou, depois de uma madrugada inteira de explicações intermináveis da parte dela e súplicas incansáveis da minha, havia uma guerra em algum lugar, um desses países minúsculos do leste da Europa, e eu quase chorei lendo aquilo. Não que me importasse com aquela multidão de desconhecidos morrendo, nunca fui de me ligar a essas coisas, sempre há uma guerra em algum lugar, o que me incomodava mesmo era o mundo, fui trocado pelo mundo, como competir com Ele? Eu nunca fumei, mas acendi um daqueles fósforos, só por acender, fiquei olhando a chama até tostar meu polegar e meu indicador. Foi nessa hora que senti as mãos de alguém sobre meus olhos, eu fiquei assim, esperando que alguém falasse algo, não era necessário, eu sabia quem era, pelo cheiro, pela textura, o ritmo da respiração na minha nuca, não precisava falar. Eu me virei pronto para dizer alguma coisa, mas ela tapou minha boca com as mãos e guiou as minhas por entre as coxas dela, vagarosamente, até me meus dedos doloridos sentissem a umidez na calcinha de algodão. Era como se tudo flutuasse ao nosso redor e não me lembro de ter andado até a cama para chegar até lá. Nas poucas vezes que tentei falar algo, uma monossilábica Isabel me calou com um irresistível “shiiiii”, enquanto eu escorria pelo corpo dela, secando o suor com a minha língua, mordiscando cada pedaço, da macia polpa da bunda ao áspero calcanhar, conferindo cada milímetro, mesmo o pequeno sinal ao lado do ânus, a cicatriz do cotovelo, o pelinho que nascia insistentemente, solitário, quase invisível atrás da orelha, as nuances da tatuagem da adolescência que começava a desbotar, nós dois envolvidos numa névoa que fazia tudo mais leve e ao mesmo tempo mais intenso e, enfim, tudo se apagou luminosamente. Eu adiei a hora de acordar ao máximo, sabendo que ela não estaria mais ali, procrastinava a hora de abrir os olhos apalpando a cama ao meu lado, espreguiçando-me e enfiando minha cabeça debaixo do cobertor. Quantas vezes isso aconteceu? Eu sinto saudade daquela sensação de querer desaparecer do mundo, invejo aquele o tempo em que sentia aquela tristeza infinita, tão mais confortável que o agora seco e esturricado de que tanto fugi, o dia em que conheci a mais aniquiladora sensação de desesperança ao olhar para o último fósforo da caixa nas minhas mãos de velho.


Motoqueiro

As ruas de Artur Alvim não eram as mesmas de pela noite. Apesar do calor que alegrava as baratas, tudo estava meio vazio. As lâmpadas das ruas queimadas carregavam tudo com uma aura apocalíptica. Normalmente, os portões estariam cheio de pessoas conversando, latas de cerveja 500 ml nas calçadas, que eram derrubadas de vez em quando pela bola da criançada, e fatalmente haveria os carros, porta-malas semi-abertosemiaberto, vomitando o funk no último volume.
Era uma noite de sexta-feira que não se parecia com sexta-feira. Na verdade, para descrever aquela noite, seria necessário inventar um novo dia. Nenhum dos dias existentes justificava o passo apressado e apreensivo do universitário que sempre caminhou por ali sem qualquer preocupação que não fosse qual a refeição que encontraria dentro do microondasmicro-ondas quando chegasse em casa.
Aquele silêncio lembrava mais um silêncio de imaginação, de livros de Allan Poe, um silêncio pontuado por latidos caninos e explosões dos escapamentos das motocicletas. Nas janelas, era possível ver algumas silhuetas obscurecidas pelas luzes amarelas e fracas das casas. 
Em uma das travessas, alguns moleques teimavam em ficar na rua. Conversavam e ouviam música como se não estivesse acontecendo nada. Eram todos irmãos, de 5 a 20 anos. Os mais velhos tinham os cabelos crespos tingidos de amarelo e grandes tatuagens nos braços. Algumas delas eram indistinguíveis e outras, mostravam palhaços armados, dragões cuspindo fogo, serpentes e carpas.
Cambadas de trouxas, disse Mateus, conhecido no bairro como Boy, que pilotava a moto grande, uma Tenerè. Isso aí não tem nada a perder, disse Dinho, em tom de descaso. Se não for de um jeito, acabam indo de outro, continuou o garupa.
Já estavam rodando pelo bairro por mais de uma hora. Resolveram parar em algum lugar para beber alguma coisa. O posto de gasolina também estava vazio. Boy cumprimentou os dois frentistas, entrou na loja de conveniência e abriu a geladeira. Demorou um tempo segurando uma lata e outra e finalmente saiu com uma BrahmmaBrahma gelada. Não gosto dessa cerveja, mas é a melhor que tá tendo. Dinho não ouviu o comentário, estava do lado de fora tragando com vontade um cigarro de filtro vermelho. Soltou a fumaça e entrou na loja para pegar uma Coca-Cola.   
É hoje, você vai ver, disse para Boy, já do lado de fora. Espero que seja mesmo, respondeu o amigo, porque a minha mina tá me enchendo o saco achando que fui atrás de outra. Fica dando alerta no meu rádio o tempo todo. Que embaço da porra, hein, mano, você é um dominado do caralho.
Boy vestia uma calça camuflada e uma camisa branca. Era uns 20 centímetros mais alto que o outro. Dinho estava de boné vermelho, camiseta, bermuda de surfista e chinelo. Conversavam com a intimidade de quem se conhece desde a infância. Jogaram bola e empinaram pipa juntos. Chegaram até a fazer uma sociedade nas bolas de gude.
Na adolescência, se afastaram um pouco. Boy continuou na escola enquanto Dinho passava as noites fumando maconha e andando de skate. Filho de sapateiro, Boy tinha a ideia fixa de que teria de passar no vestibular da faculdade pública se quisesse alguma coisa da vida. Já Dinho, filho de um bancário, tinha a certeza de que o pai teria de pagar a faculdade.
Nem um nem outro chegaram a entrar na faculdade. Boy porque não passou no vestibular da USP de administração. Dinho porque não precisava estudar para ganhar dinheiro. Começou vendendo erva e, depois, pó. Nunca mexeu com crack por questão de princípios. Seus clientes eram pessoas de bem, trabalhadoras e eram os mesmos por anos e anos. Notava que vários deles trocavam de carro todos os anos, sinal de  que a droga não prejudicava tanto assim na vida deles. Veja o guitarrista do Rolling Stones, o cara cheirou pó a vida toda e continua lá, inteiro, apesar da cara de acabado.
Boy passou no concurso da PM. Há três anos era soldado da corporação, onde trabalhava no setor administrativo. Normalmente, ele e o amigo andavam desarmados. Naquele dia, porém, o policial tinha na cintura sua segunda arma, uma pistola 380 cromada, semiautomática com capacidade para 16 tiros. O outro carregava um 38 velho que deixava em casa para o caso de algum cliente tentasse se crescer para cima dele.

Nenhum dos dois costumava cheirar cocaína. Mas acharam que uma dose extra de adrenalina seria necessária. No banheiro do posto, dividiram a cápsula de plástico sobre um cartão de crédito e –- Dinho com mais habilidade que Boy –- inalaram o pó. Estavam acelerados, como as motos fazem com as pessoas nos semáforos da cidade.
Apesar da amizade, devido às profissões divergentes, não costumavam circular muito juntos. Às vezes, um passava na casa do outro para bater um papo. Uma semana antes, Dinho viu Boy chegando de moto do trabalho e o chamou de canto. Porra, maluco, manda esses seus camaradas pararem de matar a molecada na rua de noite. Os caras tão zerando uma pá de inocente. Outro dia mataram um coitado que tava voltando da escola. Cê tá louco? Quem tá matando essa porra são os malas que nem você... Ô, Boy, cala boca que cê tá ligado que não mato ninguém. Tô ligado, mas não é polícia. E se não é polícia que tá matando tenho certeza que é bandido.
Na noite anterior, dois caras em uma moto escura atiraram em cinco adolescentes que conversavam num banquinho na rua de trás. Dois deles morreram. Um havia acabado de chegar da igreja evangélica do bairro e só passou na casa do colega para devolver o boné que pegara emprestado. A mãe dele começou a circular chorando, de roupão pelo bairro, pedindo Justiça. A história chegara até Dinho. Nos arredores do bairro, mais de dez jovens haviam sido mortos por dois caras em uma moto escura. As cápsulas sumiam misteriosamente do asfalto. O mesmo acontecia na cidade toda. Dezenas de inocentes mortos por alguém de moto.
E por que os caras pegam as cápsulas se não são polícia? Por que a PM chega rápido pra socorrer os mortos e fode com a cena do crime antes da perícia chegar? Dinho não tinha a mínima dúvida de que quem matava eram policiais de folga, com apoio dos que estavam a serviço. Quer apostar que é ladrão? Como você sabe? Vamos fazer o seguinte, essa semana não que tá corrido, mas a partir da semana que vem a gente sai atrás desses malucos.
O PM não havia acabado de tomar a cerveja quando recebeu uma mensagem de texto. Eram um colega de farda que morava no bairro avisando sobre mais um crime. Os caras meteram bala numa molecada lá na rua 14, disse. Só podem sair pela Miguel Allende. Vamos encontrar esses vagabundos lá na frente. Falou, falou, bora, respondeu Dinho montando na garupa de um pulo só.
A moto quase empinou quando Boy acelerou. Era um veículo potente, de 400 cilindradas. Dinho segurou firme na cintura do amigo e rezou um Pai Nosso para si mesmo. Tudo que queria àquela hora era acender um cigarro. Ao contrário do piloto, ele não sabia atirar. Jamais acertara ninguém na vida. Só tinha aquela arma por precaução mesmo. Já Boy, mesmo sendo do setor administrativo, passara por treinamento. Quando um ladrão tentou roubá-lo na saída de casa, um ano antes, não vacilou: sacou a arma e atingiu o cara na cabeça antes que ele tivesse tempo de apertar o gatilho. Ele também pilotava moto muito bem. Para cortar caminho, subiu um escadão, atravessou uma praça pelo meio e enfim estava na Miguel Allende. Cadê os caras, porra?! Não tô vendo nenhuma moto, respondeu Dinho. Fica de olho, doideira, que você que vai ter que atirar nos caras com a moto em movimento. Então fudeu, mano, fudeu. Fudeu nada, ó os malucos ali, ó, disse Boy acelerando.
Eram dois homens vestidos de roupas pretas, capacetes pretos em uma moto 125 cilindradas preta. De início, não notaram que estavam sendo seguidos. Mas o som do motor da Tenerè os assustou. Aceleraram., Nno entanto, o veículo em que estavam era muito mais lento que o de Boy e Dinho. Atira nesses porras, Dinho, vai. Ele mirou e deu três tiros. Dois pegaram em uma Brasília verde que estava estacionada, mas o último, claramente, atingiu o garupa pelas costas. O sujeito, mesmo baleado, revidou com uma semiautomática e acertou de raspão a moto de Boy. Assustado, Dinho gritou ao encostar a perna no escapamento quente, mas a dor viria só mais tarde.
A moto preta virou numa ruazinha, que foi minguando até se tornar uma viela. Atrás, a uma distância de cinco metros, vinham Dinho e Boy. Sem ter para onde ir, os caras que iam à frente desaceleraram. O garupa pulou da moto e entrou no meio da favela. O de trás foi tentar fazer o mesmo com a moto em movimento, mas acabou caindo. Boy percebeu a oportunidade e atropelou com tudo o homem de preto que veio rolando em sua direção. Ato contínuo, freou a moto, desceu com a arma em punho dizendo perdeu, perdeu, seu lixo.
Dinho veio correndo e chutou a barriga do sujeito caído. Agora, Boy, o que você vai fazer se esse cuzão for polícia, hein! Não quero nem saber, vai se fuder de qualquer jeito, sai daí, respondeu. Agora já se fudeu, repetiu, olhando para o homem vestido com uma roupa de plástico, usada por motoboys nos dias de chuva.

Dez minutos depois, os dois estavam calados na moto voltando para casa, o veículo agora estava tão devagar que poderia ser ultrapassado por um cavalo. Boy, que era bastante moreno, estava branco. Porra, velho, cê acha que a gente ficou louco, Dinho puxou assunto, sem obter resposta. O cara não era polícia nem bandido. Polícia nem bandido, repetia, para si mesmo. Acho que nunca mais vou dormir lembrando da cena, mano, você tirando o capacete do cara e... Porra nenhuma, porra nenhuma debaixo do capacete. Porra nenhuma dentro da roupa. Nada, nada, nada, nadinha. Quem tá matando todo mundo não é ninguém, um monte de ar, uma porra de um fantasma ou sei lá o que... A cidade, disse Boy. O quê? Essa porra dessa cidade tá matando a gente, Dinho, vou pedir transferência dessa porra amanhã, vou morar no interior. Pode crer, mano, pode crer, é umas, viu, respondeu Dinho, sem segurar no piloto. O cigarro numa mão, a cabeça virada para o outro lado sem enxergar nada, a noite vazia, o céu cinza, sem estrelas, sem lua, apenas um balão flutuando muito longe.


BO 1978/2011

    O cb Paiva, responsável pela vtra 4456, efetuava patrulhamento de rotina no dia e na hora epigrafados quando foi informado por populares que uma tentativa de linchamento estava em curso em um logradouro próximo dali. No local dos fatos, a guarnição chefiada pelo cabo encontrou a vtra 56 do corpo de bombeiros e a turba agredindo o autuado José da Silva Ramos, vulgo Zé do Papagaio, que tentava empreender fuga sem sucesso. O mesmo foi conduzido ao distrito policial, assim como os agressores que o responsabilizavam por um incêndio em uma feira conhecida pela comercialização de toda a sorte de produtos ilegais, apelidada como “feira do rolo”.
    Nesta delegacia constatou-se que o meliante tem dezenas de autuações pode pela venda ilegal de animais silvestres, estando em liberdade condicional após ser preso neste mesmo distrito, quando foi flagrado com 60 papagaios, cinco deles mortos, óbitos causados pelas cruéis e desumanas condições a que impunha aos pobres representantes da fauna brasileira (art. 32º, Lei Federal 9.605/98). O meliante confessa que retira seus proventos de atividade criminosa, mas nega ser culpado das acusações de incêndio criminoso (art. 250, § 1º, I, CP), alegando um bizarro incidente, pelo qual um lagarto de sua propriedade teria começado o incêndio. O espécime teria sido adquirido junto a um andarilho chinês que passava pela feira, por volta de 30 dias atrás, quando o animal em questão ainda era um filhote.  O autuado alega que um suposto chinês, trajando blusa vermelha de seda e calça também vermelha, ofereceu-lhe o supracitado animal gratuitamente. O meliante dispõe-se a fazer reconhecimento fotográfico no álbum de suspeitos deste distrito em busca da identidade chinês, que nega tratar-se de uma figura criada por sua mente alucinada pelo uso de narcóticos, acusação que lhe foi imputada pelos também praticantes de contravenção que o agrediam quando da chegada do cb Paiva.
    Segundo depoimento do autuado a esta autoridade policial, o lagarto veio a crescer rapidamente durante o período de um mês, atingindo tamanho incomum para sua espécie. O autuado diz ainda que passou a receber várias propostas de venda do espécime, entretanto, resolveu manter a posse do mesmo após ter um sonho com o supra. No sonho do autuado, o chinês teria aparecido subitamente, informando que o animal não se tratava de um lagarto e sim de um dragão. O meliante confessa que após a estranha revelação onírica passou a acreditar que ganharia muito dinheiro se cuidasse do animal até que ele crescesse, atingindo o tamanho do mesmo durante o episódio sonhado, o que se igualaria a um prédio de cinco andares e poderia, então, atuar nas rocambolescas tramas hollywoodianas. O mesmo alega que o animal passou a soltar pequenas faíscas pela boca, confirmando-lhe as previsões que tivera durante o sonho e fazendo do animal uma atração na feira em questão.
    A testemunha número 1, o vendedor ambulante Marcolino Pereira da Silva, afirma ter perdido todos os produtos durante o incêndio, alegando que se tratam de roupas de origem legal e de grife, porém afirmando não ter nota fiscal da compra dos mesmos. A testemunha atesta que autuado é conhecido maconheiro e que vive fumando na barraca, sendo que costuma jogar bitucas para todos os lados, facilitando a disseminação de focos de incêndio. A testemunha nega conhecer qualquer motivação para que o referido tenha colocado fogo propositalmente, contrastando com os depoimentos dos depoentes que se seguem, mas afirma que compactuou com os demais agressores com socos e pontapés no autuado por se tratar de pessoa muito “folgada”. A testemunha notifica ainda esta autoridade policial de que a grande maioria dos pássaros do qual o autuado mantém seu sustento criminoso morreram carbonizados ou foram devorados pelo tal lagarto.
    A testemunha 2, Otaviano Severino Pena, também vendedor ambulante, afirma ter sofrido ferimentos leves causados pelo incêndio e ter perdido parte de suas mercadorias, produtos eletrônicos de segunda mão, como TVs, computadores etc. Segundo a testemunha, o autuado tinha diferenças com a direção da feira e poderia ter iniciado o fogo como ato de vingança contra a diretoria da referida feira. O mesmo afirma também que o animal acusado pelo suspeito como incendiário realmente tem hábitos estranhos e é maior que os lagartos que conheceu na barraca do próprio autuado, mas que o mesmo se trata de enganador da fé do povo e charlatão, praticando ilusionismo para fazer os populares acreditarem que o supracitado lagarto consegue verter fogo pela boca e que o espécime é um dragão chinês abandonado por suposto mago chinês que agora também aparece em sonhos.
    A testemunha 3, também vendedora ambulante Maria do Socorro Amaral, amásia do autuado, que também o agredia quando da chegada do cb Paiva, relata que o autuado é um mentiroso compulsivo, mas que o animal em questão realmente é um dragão, que inclusive o mesmo matou um cão carbonizado na casa em que ambos vivem em pecado após um espirro, que ela não agredia o autuado por causa do incêndio, mas sim por haver descoberto que o mesmo vive em pecado também com outra vendedora ambulante da mesma feira, a mesma que efetuou queixa de lesão corporal contra Maria do Socorro Amaral, esta que ficará detida nesta delegacia para averiguações posteriores.
    Os demais agressores conseguiram empreender fuga ao avistar a viatura onde estava o cb Paiva e sua guarnição. A Polícia Ambiental foi acionada para apreender o espécime acusado de ter iniciado o incêndio, mas o mesmo continua foragido, sendo que alguns populares afirmaram terem avistado o lagarto voando sobre os telhados das casas de um logradouro próximo do local dos fatos. Uma dona de casa chegou a vir até este distrito relatar a fantasiosa história, que não será incluída neste BO por tratar-se obviamente de fruto de histeria coletiva gerada pela disseminação de tal boato, já que é sabido que lagartos não voam. Sabendo-se tratar de fato inverídico, a guarnição ambiental continua empreendendo busca por terra, sem necessidade de que seja acionada qualquer unidade aérea.
    O capt Carlos Alberto, da 5ª Cia do Corpo de Bombeiros, relatou que o incêndio que iniciou toda a confusão tratou-se de incidente pequeno, sem maiores proporções, como uma série de outros ainda em andamento nesta região. Que não se trata de fenômeno normal tamanho número de focos de incêndio ao mesmo tempo, porém que isso não é motivo para atribuí-los a ação misteriosa de um dragão nos arredores, já que estamos em período quente e seco do ano, sazonalmente com maior incidência de incêndios. O perito do Instituto de Criminalística Domingos de Castro e sua equipe se dirigiram ao local do incêndio para verificar a causa do foco inicial. Requisitou-se exame de corpo de delito no autuado e nas testemunhas. O autuado será encaminhado para a Cadeia Pública. Foram feitas as devidas comunicações. Sem mais.   




Artur Rodrigues, autor do livro de contos O ato de riscar um palito de fósforo (Patuá), nasceu em São Paulo, em 1980. Cresceu na zona leste. Morou também no Recife e em Londres. Foi officeboy, operário, atendente de telemarketing e garçom. Desde 2003, atua como repórter cobrindo assuntos da rotina da cidade. Atualmente, trabalha no jornal Folha de S.Paulo.






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