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Dois olhares sobre Des.caminhos, de Adri Aleixo

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Stanislav Odyagailo


Olhar 1

A brevidade do canto para ecoar nas retinas

Reza a mitologia que Vênus surgiu de dentro de uma concha de madrepérola, tendo sido gerada pelas espumas, e possuía um carro puxado por cisnes. Madrepérola, espumas e cisnes. Recorro a essas imagens para galgar o cume de uns versos que se elevam como a espuma, despertam sons como o nácar (madrepérola) e se emplumam em elegância como o cisne.
Os poemas de Adri Aleixo neste Des.caminhos inauguram linguagens e provocam epifanias. As palavras como filigranas: composição ornamental feita de fios muito finos. Quem a lê, “vestida de chuva e pétalas”, mergulha na imensidão de uma poesia que arrebata. A brevidade de um canto feito para ecoar nas retinas.

Enlevo
O pássaro já voava em azul
foi então irisar
o infinito.

Segundo Gaston Bachelard “um devaneio, diferentemente do sonho, não se conta. Para comunicá-lo, é preciso escrevê-lo, escrevê-lo com emoção, com gosto, revivendo-o melhor ao transcrevê-lo”. Neste percurso em que cada palavra se reveste de preciosidade, a poesia se destina a comunicar ao mundo o âmago daquele que escreve.

Do Verbo
A palavra estilhaçou meu peito
e o que pulso
É poesia.

Eis a reinvenção da vida – vide Cecília Meireles “a vida só é possível reinventada” – através da palavra poética. Adri Aleixo deixa fluir os sentidos da existência com todas as suas vicissitudes. Mas se impõe como poeta a sutileza, a suavidade, a suntuosidade do verbo. Existir é ressignificar a realidade para transformá-la na matéria etérea da poesia.

*palavra de José de Assis Freitas Filho (poeta, escritor e mestre em Letras).



Olhar 2

Des. caminhos: entre pétalas e fulgurações

Há uma mulher sentada em imenso campo. Segura uma flor cor areiae carmim por entre os dedos e desfolha mundos ao sussurrar do vento: “bem me quer, mal me quer...” Pétala a pétala desenha caminhos em dia de céu azul. O sol sela cumplicidade ao cortejá-la sem cerimônias. Ele sabe serem dela as muitas eternidades, as que começam na palma de sua mão de traços finos, serenose sutilmente assertivos,e que alçam voo eleganteao tocar em nuvens de algodão ecintilar matizes com luz própria, fertilizando gotas e sementes: o transcendente, que letra por letra despetala em vidas, as muitas que o olhar do leitor pode colher e replantar.
Sinto a obra de Adri Aleixo, Des. caminhos, como se a poeta deslizasse delicadamente seus dedos ao despetalar rotas e reconstruir horizontes.
A tessitura de seus poemas possui a marca do olhar feminino sobre tudo que a habita. Por vezes, os detalhes, ou apenas um; em outras, a flor inteira.
Em Des. caminhos, Adri Aleixo conduz o leitor ofertando com carinho um fio de Ariadne, que longe de asfixiar ou amarrar, o envolve em guirlandas de letras que situam e instigam sua imaginação no perder-se de tantas trilhas. Dentro desse inusitado labirinto construído pelo traço longilíneo e profundo, a escritora permite ao leitor criar outra dimensão,que em neologismo meu chamei de imã-ginação: a capacidade de atrair outros mundos ao seu próprio.
O onírico, o telúrico, as forças da natureza, o ser em toda sua plenitudeabordados na voz franca de suas indagações existenciaisao deslindar suas relações como quem conversa com amigo íntimo, marcam o Des. caminhos. Não existe nesta obra bússola ou termômetro, nada é mensurável, mas são tantas as pétalas de aromas vários e sabores à fruta fresca da estação que audazes tocamo intangível, traçando pequenos ângulos sem perpendiculares, onde aparentemente não haveriafrestas apassar.

*palavra de Ana Cecília Romeu (publicitária e escritora | nascida em Porto Alegre, publica crônicas em jornais do RS e em outros estados do Brasil). 








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