(Branco sobre Branco, 1918 - Kazimir Malevich)
Branco no Branco
Estava frio. Um pouco esbranquiçado. Quebradiço. Frágil. Insípido. Quando não, doce demais. De deixar a cabeça doída. Tylenol. Silêncio. E frases curtinhas. Ele olhou para ela. Olhar vago. Sentou ao seu lado. Lugar distante. Silêncio. Falava. Silêncio. Palavras. Palavras. Frases intermináveis. Histórias. Ou não. Para ela, burburinho. Borrão. Borrada, a visão. Não chorava, nem ele, nem ela. Não sorria, nem ele, nem ela. Não brigava, nem gritava, nem esperneava, nem se enfurecia, nem perdoava, nem estremecia, nem fraquejava, nem desistia, nem voltava atrás, nem se arrependia, nem se desesperava, nem se exaltava. Nem amava. Branco no branco. Ela disse, em meio às palavras. Sinto falta da conversa. Ele parou. Mas estamos conversando. Um suspiro. Cabeça baixa. Decepção. E que expectativa? Essa mesmo. Então não, não decepcionou. Previsível. Fechou os olhos. Perdeu a visão. Esqueceu. Então, como foi seu dia? Palavras, palavras, palavras. Ela, que nem amava. Ele, que nem percebia. Eles, que seguiam os dias.
____________________________________________________________________________
Gabriela Hollanda, alagoana, estudante de Direito da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Escreve no blog democaseira.blogspot.com.br