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6 poemas de Marco Aurélio Cremasco

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Kamil Vojnar


LÉXICO


adie o dia de ódio

adie até o dia

em que a palavra ódio


não esteja no dicionário

não encontre sinônimo

em ira gana raiva rancor


e a razão de ter existido


é a de um dia ter sido

antônimo esquecido

de afeto ternura amor



JORNADA


existe um deserto

para atravessar


um deserto

sem fim


este deserto

dentro de mim



ALMA


ainda que o corpo

deixe de sê-lo


ainda que o corpo

dissolva


sou alma

não sou degelo



ESTUDO PARA UM EPITÁFIO


na hora da minha morte

derramem lágrimas, caso queiram


caso não, sorriam de algum caso


que fiz ou deixei de fazer

que fez sorrir que fez chorar


rezem uma ave-maria

ou deixem pra lá


a vida é uma oração insubordinada



OBRA


o poema não é feito

de argamassa aço cimento


o poema é feito

de vórtice caos tormento


o poema não é feito

de óxido dióxido fermento


o poema é feito

de firula dança pouco de vento


o poema não é... caso desfeito

brotam carne osso sentimento



MEUS AMIGOS MAIS EU


meus amigos mais eu

vivemos na escuridão


não somos convidados

para visitar castelos


somos odiados

por comer com as mãos


mal sabem que

meus amigos mais eu


estamos nesse negócio de verso

responsável por toda energia bruta


que molda cada treco do universo




Os poemas fazem parte do livro As coisas de João Floresa ser lançado pela Editora Patuá.



Marco Aurélio Cremasconasceu em Guaraci, interior do Paraná. É professor titular em engenheira química na Unicamp, Campinas, onde reside. Foi um dos fundadores e coeditores da Babel, Revista de Poesia, Tradução e Crítica. Cremasco traduziu poemas de Langston Hughes, Robert Lowell, Enrique Lihn, Mario Benedettie Oscar Wilde. Tem poemas publicados em antologias, ressaltando os contidos nas coletâneas Passagens, Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná(Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba, 2002), Moradas de Orfeu(Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2011), nas antologias digitais Vinagre - uma antologia dos poetas neobarrocose Pi², nas revistas eletrônicas Germina Literatura, O Bule, Revista Biografiae nas revistas impressas Babel Poética e Ciência & Cultura. Obteve prêmios em concursos de poesia, tais como o Femup(Paranavaí - PR), Escriba(Piracicaba - SP), Mário Quintana(Porto Alegre - RS), Raimundo Correa(Rio de Janeiro – RJ) e Universitário de Poesia(Antofagasta - Chile). Em 1997 publicou a coletânea de poemasA criação,fruto do Prêmio Xerox/Livro Aberto. Foi o vencedor do primeiro Prêmio Sesc de Literatura, em 2003, com o romance Santo Reis da Luz Divina, publicado em 2004 e finalista do Prêmio Jabutiem 2005. Além dos livrosA criação(Cone Sul, São Paulo, 1997) e Santo Reis da Luz Divina(Editora Record, Rio de Janeiro, 2004), Cremasco tem publicado os livros de poemas Vampisales(Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1984), Viola caipira(edição do autor, Campinas, 1995), fromIndiana(em inglês, edição do autor, West Lafayette, EUA, 2000) e o livro de contos Histórias prováveis(Editora Record, Rio de Janeiro, 2007). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literáriapara a escrita do romance Evangelho do Guayrá.



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