Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

5 POEMAS DE RODOLFO MATA

$
0
0






LEMNISCATA EXISTENCIAL
(In memoriam Paulo Leminski)


  se dar-se em                      se darte en
   seda é                                             sedas es 
 sedar seu dia                                     sedar tu día
   não ceda                                                         no cedas
   ria                                                                              ríe
sua sede                                                             tu sed
se é sua                                                 si es tuya
 concede                                           concede

    via                                                   vías   






DUPLA NATUREZA
(Lendo Duda Machado)


A gota de som
perde-se no mar
de imagens

O pássaro e sua voz
no murmúrio insone
dos objetos
no reino vegetal

Manchas no gramado
as sombras tremem
entre dois mundos

Nem daqui
nem de lá
são perfeitamente
humanas



O RELÓGIO
(Imitação de Chico Alvim)

Fui ver um bruxo
lá pros lados de Santo André
que me cobrou
quinhentos reais

O bruxo da juventude
como todo mundo fala
tirou meu relógio
e fez um ajuste

Desde então
meu relógio
corre de trás pra frente
Cada dia tenho um dia menos
sou um dia mais jovem

Você acredita?


  
MISS READING

 Para Roberto Zular


Lendo Valéry
‑os acontecimentos
me entendiam‑
senti uma conexão
meio subterrânea
quase um chamado
para voltar
de um pseudoexílio
de inexistência
quase uma injustiça
forçada
de uma tradição
mal-entendida
quando de chofre
li de novo
os acontecimentos
me entediam
e sumi outra vez
naquele outro tempo
de poetas gloriosos
que sabiam falar
às avessas
dentro de mim
como se nada
acontecesse

Deixei de ser
minha anti
versão espectral
de não elisões
falei contigo
ou pra você

Falei
e suficiente foi
existi




ETIMOLOGIA
(Homenagem a Sebastião Uchoa Leite)


Qual o etimológico na etimologia?
Os gregos traziam suas raízes
nas suas falas cotidianas?
Ou a Torre de Babel não existia?
A sombra da serpente já então
era bífida?
Ou tinha mais estiletes
que o chicote de nove pontas?




*    *    *




Rodolfo Mata é autor dos livros de poesia Parajes y paralajes (Aldus 1998), Temporal (CNCA 2007) e Qué decir (Bonobos 2011). É pesquisador do Instituto de Investigações Filológicas e professor da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México. Traduziu e organizou antologias de autores brasileiros como Haroldo de Campos, Paulo Leminski e Rubem Fonseca. Recentemente publicou as coletâneas Alguna poesía brasileña. Antología (1963-2007) (UNAM 2009), De Coyoacán a la Quinta Avenida: José Juan Tablada, una antología general (FCE 2007), e o prefácio às memórias de Manuel Maples Arce (Universidad Veracruzana 2010). É responsável pelo site José JuanTablada: letra e imagen






     

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548