PREÂMBULO PARA UM POEMA SEM DIREÇÃO
os poemas sempre faltam
e sobram, mais ainda
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TRABALHO,
mas num cantinho vazio da cabeça
continuo a construir
uma oficina pro diabo
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BARCO
me mantenho à deriva e
espero pela sorte
de algum dia vir
a encalhar na tua praia
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POESIA É UMA CORDA SEM NÓS
(e também sem pontas)
que dá voltas e voltas
em torno de tudo
(inclusive de si mesma)
translada e rotaciona
sem fim
sem fim
sem fim
poesia é uma corda sem pontas
e cheia de nós
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QUATRO VEZES 3
fiozinho fino, brilhante
a lua sorri
mesmo minguante.
solidão na minha alcova
céu velho
lua nova.
a lua, bendizente,
indica o caminho a seguir:
constante, escuro e crescente.
a noite vem com frio
e no céu, à esquerda, lua
cheia de vazio.
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LIBERTADOR
(a Gabriel García Márquez)
Já não sei como me sinto
ou se me sinto por demais
o general em seu labirinto
(mas sem muitos labirintos
e, tampouco, generais).
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PERDI 7 DIAS
como quem perde um ônibus
ou uma moeda
um dente
uma esperança
um jogo de xadrez
um amor de toda-vida
a fé nas coisas bonitas
perdi, simplesmente:
pra não encontrar mais
* * *
Marcos M. Casadore (1986) nasceu em Assis/SP. É professor de ensino superior, doutorando em Psicologia; Co-editor, junto de seu irmão Francisco, da “Revista literária Macondo" (vigente desde 2011). Lê a toda hora. Escreve de vez em quando. Publicou “Mínima lista” (Coleção “Vertentes”, Editora UFG, 2013): de onde vieram os poemas desta seleta. Email.