Festim
Hoje , véspera
do padroeiro da cidade .
Chuva com mais tentáculos
cada verão que passa . Janeiro Só ,
guaçú de tez descabida
os lábios Ontem ,
de Inúteis .
Pelas campinas de Mim
passam xeréns de titânio ,
assobiam furiosos
o trenzinho do caipira .
Jaburus ajuntam no asfalto adedanhas
dum sempre nada - Ninguém ...
Hoje mais tenebrice______
Charqueada atravessa
A caratonha da miséria nacional :
Ogum-Maré avisa crime ,
Mostra as cuecas do apóstolo –
Os dólares claro – amarfanhados
Junto do cu .
Epifania
Eu visto as pedras do mundo
nos outonos que Existo .
A Virgem Branca aparece nos campos ,
aponta o rumo de Emaús ,
destila o cântico do Hóspede .
Meus carnavais de Esperanto
acordarão pianos
de um mundo novo em casulo ,
depois de o Tempo fugir
nas asas de grão – demônios
armados com souzafones .
O Cavalo Amarelo
( Ao meu irmão Phelipe Chiarelli )
A tarde
em pleno arcabouço do fim já perto .
Então que no Rebouças rendido
uns pés surfando a vida
entre as carroças de ferro ,
entre os cavalos microscópicos .
São deles dois/três
erês da Estação Primeira
o sangue indiferente que a pistola dos polícias
espalha no asfalto à jeito mesmo
dum Pollock distraído
enquanto os carros voltam na toda
um xote de mais Sangueira esta burguesa
nem por isso
vermelhança de Menos______
Que no arcabouço da tarde finda a morte Ali
de açambarque ao Rebouças , mas_____
plural
só pelo sangue salpicando
o asfalto .
Madalena
Era um estranho , e no entanto
podia ser o jardineiro daquele horto .
Cheguei-me e disse :
Tu que para além do Nada conheces
todos os mortos , mostra onde o pusestes .
Trouxemos mirra , perfumes .
Ele , que por entre a cortina de minhas lágrimas
dissera "porque choras , mulher?"
agora cala , me Olha . Profundamente .
Quando falou de novo , apenas
disse meu Nome .
Desde então nada Mais
precisou ser Dito .
Ápice
( À memória de Mário de Sá - Carneiro )
De um sol longínquo um sopro
nos outonos de Mim____onde uns aléns
inda refletem luz Sonoramente_______
Algum jardim floresceu
pelos meus olhos tão d'água ,
memória
do que foram Cores vestindo o branco de meus papéis ,
aurora um dia ...
Erês retintos de Sorte
onde meus sete esperantos
um sopro , assim Subitamente ...
" Ah , não sei porque , mas certamente
aquele raio cadente
alguma coisa foi na minha sorte ... "
Onde era ideia de Norte
último sopro
a retardar o inverno Derradeiro____
Aurora ,
um Dia ...
Foto: dançarino e coreógrafo espanhol
Miguel Angel Berna no espetáculo "Goya" (2010).
* * *
Adiron Marcos de Barros Costa (1976) nasceu no Méier (Rio de Janeiro). Mora atualmente em Jacarepaguá (Sulacap). Cursou bacharelado em teologia pelo seminário maior da Igreja Presbiteriana do Brasil. Formou-se em música pela Escola Villa-Lobos (Piano, regência, arranjos musicais e fagote). Começou a escrever poesia em 2006. Desde agosto de 2010 participa do cep 20.000. Em 2011 participou de oficina de poesia e performance do poeta Ricardo Chacal, co-criador e diretor do cep. Escreve dois tantos de coisas em blog. Email.