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John Jude Palencar |
Negra Donzela Dourada
No extremo norte dessas regiões
vive uma donzela;
seda carmesim e sandália de couro
e ela toda, total,
parada, a ser atalhada às
veredas d’outras áreas e
paisagens.
Com uma coroa em sua cabeça
ela olha o estendido pôr-do-sol
sobre o vale de Iribó,
sobre a relva da criação,
ela fita-o.
Coroa de aves, coroa viva,
coroa que canta
o brilho dessas vastidões
sem-nomes.
Do vale Iribó ela ressoa um ruflar,
esse se perde pelas terras ignotas,
sem rostos, só breu...
(o breu é uma crua paisagem, só
o halo do olhar da donzela existe)
Ela enaltece, louva seu ruflar novamente,
mas ele viaja sem trilhas, sem brechas,
corre des-alado, sem ouvidos a
tocar...
ressoa a donzela, sua coroa sem-fim.
Donzela negra, perdida. Invoca
seus dedos em curvas num ritmo,
um ritmo inexplicável,
ela alumia cantos ao pôr-do-sol.
Coroa de seres marítimos, coroa de
água insípida, água que cai
de seus olhos: brota um flor.
Coroa-oca: oca com uma fenda central.
Coroa-oca onde o pousar do sol adentra,
intrépido.
O sol recolhe seus raios para o
centro desse objeto. Atravessa a fenda raio
por raio até completar-se, o pouso finalizado...
Donzela, aquela que detém nosso sol.
Rainha do pôr-do-sol, donzela negra,
tu é o espetáculo expandido.
Coroa solnívora: uma negra floresce,
uma flor nasceu, duas belezas.
Cabelos-raios-de-sol-nasceram:
donzela-fios-dourados perdida
nos extremos dessas
regiões amplas
do norte.
Dona de si e de
nossos dias.
Teoria do Mel
...longos tecidos de mel escorrido
nas têmporas do horizonte...
...fizera do espectro desse uma dimensão
da luz de contornos impalpáveis...
...nuances visíveis do toque nas atitudes
dos vapores concretos do iludir...
...o iludir recai...
...finge ser...
...no âmago da necessidade degolam-se
os gestos que se faz na pós-receptividade
do reflexo...
...reflexo de sal rígido...
...moedas de luz solar embebidas
pelas lânguidas chuvas de mel...
...o iludir só existe ali, bem ali,
atrás da cortina de valor adjetivados do horizonte de asas...
...a tenacidade das ondas trouxera – presos no pêndulo da chuva de barba luzente – os tecidos de mel até aqui, bem aqui, agora,
na ilusão das areias,
areias que se fazem mornas nas
entrelinhas dos passos...
Raul V. Ávila de Agrela, reside em Fortaleza, nasceu em 1994. Estudante de História na Universidade Federal do Ceará, e poeta, essencialmente.