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6 poemas de Izabella Zanchi

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Izabella Zanchi com sua obra (técnica do sudário)


LÚCAR CANTA A TRISTEZA DE BEATRIZ

1


Seu rosto de lágrimas brilha com pérolas risonhas.
Pobre Beatriz! Voltou aloucada para o meu mar silente
Esta criança de água que agora no meu leito ri e sonha.

Seu corpo de seda flutua na noite tristonha e ardente
Abrindo-se tal qual rosa trágica cheia de desejos
Amada dolorosa e dócil afoga-me em seus beijos
E eu subo ao zênite numa carruagem incandescente.


2


Bea, Beatriz, amo-te com o meu coração sonolento
E a minha alma desgovernada beija as estrelas frias.


3


Não chores, Beatriz, o amor já partiu na nave dos ventos
E o tempo assinalou a fúria postimeira destes dias.
Roxana partiu e com ela a cantiga da madrugada
E o meu amor te ama com a lira da dor exterminada.


4


Beatriz adoeceu de volúpia: seu amor é triste abismo
As suas marés me carregam com umas garras furiosas –
Ela suspira com os círios sob loucura e cataclismo
Queimando-me com seus gritos e suas preces amorosas.


5


Ah Beatriz já não respira, sua alma me parece morta!
Devorou minha virilidade e agora está tão triste...

(Oh Beatriz! Ai amada, o vendaval que no teu olhar resiste
Traz a face das amantes espreitando atrás da porta);-

Quem sou eu, louca? O teu esposo morto, a tua alma branca e entrevada?


6


Olhos teus flutuam na minha alma, girando como rosas.
Olhos teus, flamívolos, trazem a lua do céu do nada.
A agonia de estrelas sonâmbulas dura em paz trevosa

E o amor eterno dorme no sepulcro da paz rosada.

(Série Respiração Boca a Boca)


TUMOR

Depressão,

Alma apartada das
Águas

Vida apartada,
Alma
Flutuante

Lua de vento
Aguda e
Sibilante.

Flutíssona depressão,
Rosas
De tumor
Navegantes.

A morte, cristal
Da
Noite

Gelo
Tumular dos
Outonos –

Flores nascidas no inverno,
Sol
Glacial

A lápide
Tocou a noite

A noite transmudou-se
Em alma;

O mar,
Paralítico, enregelou
Suas águas
Numa paz doce e
Tortuosa.

O mar vai
Desaguar

As águas
Sibilam como fios
De vento,

O sol se apagará
O sol está
Morremorrendo.

A luz
É um espírito –

Sombras, gás, vento.

(Série À FLOR DO ABISMO) 


POSTIMARIA

O amor,

O amor separa
Águas de
Flores

Flores de brumas,
Brumas de
Trevas,

Trevas das águas

Como a noite
Dragando
Luas
E a voz flutissonante
Dos ventos.

Corpos trançados, as flores
Foram apartadas
Das trevas

A noite dragou a lua
E o pranto convulso
Dos ventos inundou
O mar.

O amor
Vai se apagar, o amor
Está morrendo

O amor é só
O amor –

Flor de treva na água
Dos ventos.

(Série À FLOR DO ABISMO) 


CINZA

A violenta paixão abre as asas de árvore sobre o rio
Vagas que sobem quais vagas do oceano
Torturas plangentes do vento; amada;
A loucura me ceifou, a loucura me abraçou,
Nada sei deste palácio com paredes de diamante:
O vento me carrega, e eu vou.

Triste sina outonal, recidiva da pureza,
Todo o azul, toda a seda
Deslizam neste céu de pura menta,
Aqui, amado, a voz sibilina de Deus
Arde na minha alma –

A tempestade anuncia as cores roxas, amada
Amado, gira o vento sobre a água e adormeço em sono.

Eu vou.

(Série Meu Amor Entrevado na Melancolia)


LUA PRÁVIDA

Lua de gás
Se move
No norte
Açoite
Ou vórtice
De sombra
Lilás...

Lua
Me rouba
A serenidade...
Lua viva
Cor de mate

Luz que anima
A minha alma
Luz alva
De matiz doentio
Gira no rio
Vago da noite

Lua de linho
Ao norte
Deserta e fria
Frígida, funesta

Me abraça
Assombrada
Vaga, vasta,
Na mata
Da saudade tua

Agora trágica
Právida
Lívida
Lua...

(Série Meu Amor Entrevado na Melancolia)


SONETO DO AMOR MORTO

Flores roxas sob o teu rosto
Morto na fotografia
Resplendem quais círios tristes
De face siderada e doentia.

Vã quimera deste meu amor
Um cadáver que eu carrego
Junto ao meu peito inquieto
Túmulo de devastadora dor.

Triste fim de quem amou os ventos!
Vazia é a minha ilusão soturna
E débeis os mais puros sentimentos!...

Olhos teus perenes e inertes
Na moldura dourada e fria
De um amor morto numa fotografia...

(Série Meu Amor Entrevado na Melancolia)



Izabella Zanchi: Vive e trabalha em Curitiba. Atuou como atriz, dramaturga e diretora de teatro, migrando nos anos 80 para a área das Artes Visuais (artista, curadora e orientadora em oficinas), com trabalhos em pintura, gravuras em metal (ponta seca) e linóleogravura, sendo criadora da técnica hipertipia (agregação de solvente, variação da técnica monotipia). Seus trabalhos foram expostos em diversas exposições e mostras (nacionais e internacionais), integrando acervos como o do Weisman Art Museum. Em 2013, Shana Lima Adayme escreve uma monografia sobre o trabalho da artista para o Curso de Especialização em História da Arte Moderna e Contemporânea da Escola de Música e Belas Artes do Paraná intitulada "O Retrato na Gravura de Izabella Zanchi". Escreve poesia desde os dez anos de idade, tendo sido publicada em antologias da Revista virtual LOGOS.



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