há uma música tocando dento de mim
composta com fiapos de manga
e pássaros degolados
choro com a chuva tocando os telhados
o João de barro rodeando a casa
os eucaliptos destronando os crepúsculos
atravesso os monturos tocando a flauta
sei que não pertenço ao mar
escavei minha morada na montanha
combustão de rodagens esburacadas
sou essa entrada para dentro da claridade
raiz desfigurada no tempo
preparei a lâmpada, o azeite, o vinho
deixei o pão sobre a mesa estendida
e o amado não veio
embora eu o sinta em cada trincado
borboleta assentada em meus olhos
é tudo o que tenho hoje
este é meu corpo, tomai, comei,
lavrai a minha alma debaixo do crepúsculo
sou a flor da tua abóbora
comungo a solidão do peixe no anzol
escrevo em memoria dos deportados
estou dançando a beira da ascese
engravidado pela palavra.
Sandrio Cândido
composta com fiapos de manga
e pássaros degolados
choro com a chuva tocando os telhados
o João de barro rodeando a casa
os eucaliptos destronando os crepúsculos
atravesso os monturos tocando a flauta
sei que não pertenço ao mar
escavei minha morada na montanha
combustão de rodagens esburacadas
sou essa entrada para dentro da claridade
raiz desfigurada no tempo
preparei a lâmpada, o azeite, o vinho
deixei o pão sobre a mesa estendida
e o amado não veio
embora eu o sinta em cada trincado
borboleta assentada em meus olhos
é tudo o que tenho hoje
este é meu corpo, tomai, comei,
lavrai a minha alma debaixo do crepúsculo
sou a flor da tua abóbora
comungo a solidão do peixe no anzol
escrevo em memoria dos deportados
estou dançando a beira da ascese
engravidado pela palavra.
Sandrio Cândido