Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

o retrato do artista enquanto foge

$
0
0

*
um hino para Medusa
quase uma cantada

cuidado que a Medusa
só pode ser tocada
na fotografia

proibida
a face mais bonita
fica interditada

te transforma em pedra ainda
a medusa viciada

te pretere com uma menina
mesmo se a tivesse
morreria

para Gia Carangi 

 
*
conhecer a flor
dissecada na
biologia, nas
vitrines da flor-
icultura, ar-
quitetura da
florista louca, na
mão sustenta o ra-
mo da papoula, es-
cuta o apelo do
poeta novo

para a poetisa
dos infernos, pó
para esticar na pá-
gina do livro, para
varar a noite a-
dentro e germinar
no verso do po-
eta bêbado 

 

*
Nossa Senhora Desatadora de Nós
intervenha


o Sol
brilhando
sobre o
arrozal


permita

amarrada
como você gosta

fica

primeiro salmo para Marília 

 

*
a palavra cachorra não morde
a palavra tortura machuca

cada T parece outra volta
na engrenagem do leito de Procusto


a palavra amarrada segura


m
som que a boca calada
pronuncia


A
como acorda sua menina

segundo salmo para Marília 

 

*
o papel de arroz embrulha o corpo dela
estilete
corte mais do que navalha
caravela
cometa que não sabe de nada
interna


o corte onde fica escondido
na coxa
escolheu o cabo cor de rosa
combina
filha da puta
é por isso?

terceiro salmo para Marília 

 

*
maconha, chá de erva doce
devolvam senso e sanidade
ao louco, que já faz um ano,
http //
a canto da sereia que
se torna imagem, ww
w. subgirl .com / ela entra em sua vida

para sempre, Molly com dois
ll’s; parecem duas barras
de cadeia; o holandês
voador navega – fantasma
pálido – em guarda frente ao
riso dela; ela sorrindo
quando pisa em pedras, descalça,
a musa se descalça na Internet

mostra as pernas; a saia justa
mostra a sua bunda; o pé sujo
pela escada afora; vai dar
na calçada da fama em Holly
wood; se fura no alfinete
agudo, se amarra n’agulha
fina; ilude; mente pela
rede a fora, se é que existe Molly

o brilho da água se recorta
no vôo do inseto

o Buda sentado alucina
esmeralda incrustada no olho de vidro
a loucura do fungo
nos night clubs em Nagazaki
pássaro feito de plástico
tão bonito que parece de verdade

minha doce emoção
se desgasta no excesso da palavra

o brilho da água
já não diz mais nada

mas soluça a água salgada do teu olho falho
grita na garganta, mais viscosa
só me diz a água
que do teu olho vaza
lacrimosa
neblina produto da fumaça
zebra riscada com chicote

o Buda toca uma punheta, e goza
) mas ( sob o céu da Pérsia
no bico do Simorg
ela é minha de verdade 


 
*poemas do livro o retrato do artista enquanto foge (2007), de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
*seleção: Nuno Rau
*imagem: collage de Valero Doval



Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548