Era proibido. Em cálices herméticos, sobre os mármores tumulares de uma dinastia banida, ela sorveu secreta e lascivamente licores infaustos. Súbito seu espírito, seta envenenada, desceu à cripta encantada dos êxtases enfermiços. Com olhos pávidos testemunhou o pecado, qual tumor transfigurado, reluzindo no vazio opulento das aras. Com mãos impotentes tocou as florações da gangrena no tronco dos sacramentos. Viu o pavão tenebroso, ave perpétua, num rasante maligno sobre a procissão dos sacerdotes, e como tudo explodiu em eflúvios aurinegros e resinas pestilenciais: o Mal e seu orgulho em luxuosas volutas de fumo e putrefação. E o bojo do domo infestado de miasmas! os vitrais traspassados por fantasmas! a nave povoada de cânticos ctônicos e assombrações! Ouviu o tom dos fermentos santos sangrando os lábios ofertantes, o azeite da extrema-unção sulcando as carnes consagradas. Contou na linhagem cruenta dos mártires as cabeças canonizadas sumindo-se no mar Vermelho. Beijou o rosto regélido de madonas genuflexas, que desmoronavam ante o perdão dos confessores. Durante o lava-pés dos prelados, uma legião de girinos saltava obscenamente das pias batismais. Os anéis bispais eram aranhas preciosas que fugiam dos dedos para violar o peito incontinente dos dignitários. Os corpos incorruptos derretiam como vis bonecas de cera sob a Estrela da Manhã. Na visão final de um gigantesco hostiário imundo, ela reconheceu o símbolo monstruoso do mundo. Era proibido.
Imagem: Alexis Simon Belle