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É NATAL EM MALLARMARGENS! 5 AUTORES CANTAM JINGLE BELLS!

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NOITE FELIZ(por Marcos Bassini)



             um garçom comentou que a gargalhada

era o vinho1 que bebia pra anestesiar a angústia



um fashionista destacou que cinto preto e largo

    não passava de disfarce pra esconder barriga

um colunista explicou que o altruísmo era desculpa

                  pra comprar, comprar, comprar, comprar



um psicólogo2 garantiu que aquele tipo de veículo

                                 compensaria um pau pequeno3

uma mulher revelou que a lenda teve início quando ele achou um saco

                                                                      passar em casa a noite de natal

e agora, tsk, ninguém mais acredita nele:

                    velho, gordo, barba por fazer4



                                        aliás: e ele?

quando deixou de acreditar em si?






1amnésia líquida, dosada / alívio úmido // 2nem freud te explica, solução / alcoólica //

3menor dos meus problemas // (4a terra é tão chata nos pólos...)




*   *   *




COMO SE(por Carina Destempero)

 
     Como se eu fosse uma criança de sete anos, ansiosa pelo presente que o velhinho de barba branca iria trazer naquele carrinho de nome engraçado, puxado por aqueles bichos de nome esquisito e nariz vermelho, como se eu não soubesse que nada daquilo existia e forçasse os olhos fechados enquanto meu pai colocava o presente ao lado da minha cama,
 
     Como se eu fosse uma adolescente de quinze anos e visse o amor da minha vida chegando na festa, e corresse pra me posicionar estrategicamente embaixo do visgo, assim quando ele passasse eu diria, Ih, estamos embaixo do visgo, acho que temos que nos beijar, e ele iria sorrir e me beijar como se não quisesse, como se eu não quisesse, como se só nos beijássemos por sermos incapazes de desobedecer à lei imaginária do natal,
 
     Como se eu fosse uma mulher de trinta e quatro anos e passasse a noite de natal com o celular na mão, brincando com as crianças com o celular na mão, como se eu não soubesse que ele não iria me telefonar, como se eu não soubesse que ele em breve não iria ser mais o novo amor da minha vida, como se eu pensasse que no próximo ano talvez eu finalmente fale a verdade e admita que o natal é a minha desculpa favorita para viver uma mentira. 




*   *   *



 LISTA(por Laura Nery)

no alto da folha, “não esquecer” e, sublinhado duas vezes, “para hoje”. imprimir o artigo de (ilegível) tender, nozes, passas, pilha, detergente, vinho. confirmar com (incompleto) por favor, não demore, eu talvez durma: beatles. sandália baixa dourada. nova. a beleza é o começo do terror que a gente pode suportar: godard. tudo converge para zero hora: confirmar com (incompleto) de dickens: some recollections of mortality de andersen, os fósforos dinheiro para o porteiro e para o entregador do jornal. champanhe, uva, relatório dia 1º. do pessoa, qualquer desassossego. guardanapos, toalha (?), flores (?) ligar novamente tudo converge para a zero hora frios, cereja. entre 24 e 25 pode não haver ordem, mas a noite é obrigatória. e também não há uma ordem para juntar as palavras: cintilar e milagre o que há, às vezes, é uma certa indecisão.




*   *   *




 ANTI-NATAL(por Alexandre Guarnieri)

para Fernando Pessoa

 
Nascem homens. Deuses morrem. A mentira
Nem chegou nem fugiu: o acerto é outro.
Agora o remate está à venda, fácil.
Será? O que um dia virá será melhor?

O insone dorme, é sono denso como nunca.
O pensador desperta uma revelação inédita.
Quando se puder prosperar de uma palavra,
Todo discurso escondido, enfim, será dito.




*   *   *




3 2 1(por Maíra Ferreira)




enfeites entopem o vão
das varandas vazias:
parados em algum lugar
aguardam
todos
o
3
2
1
há quem não esteja
aguardando nada mas
mesmo os distraídos
enquanto se ocupam
sentem o latejar
do tempo
vindo;
cego e galopante
se aproxima com mãos
calejadas decidido
a não abrir espaço
para mais nada
que não seja
o novo.
ainda
no entanto
entre um e outro
imperceptível
se instala um oco -
circular o tempo não
faz nada senão
passar
e de tanto passar
se espaça
eu que não espero nada
dos anos gosto muito
dos minutos e a cada 57 segundos
aguardo ansiosa
o
3
2
1
que ninguém se presta
a contar

 







Foto: Frederic J. Brown/AFP


*    *    *



 

Marcos Bassini é redator, roteirista, compositor e, segundo Senhorita K, poeta. A letra K é a primeira de um projeto chamado Glossário. A publicação de Senhorita K pela Editora Patuá foi um prêmio que o autor recebeu do concurso Edith - Só Para Poetas, organizado pela Editora Edith, com direito a lançamento na Balada Literária 2013. É um livro de poemas que se apropria de algumas características dos romances (história, personagens) e filmes (três atos, pontos de virada).





 

Carina Destempero é psicóloga, apaixonada por psicanálise e por literatura. Escreve para os sites Confraria dos Trouxas e Digestivo Cultural, entre outros, e é editora de literatura na Caixa Preta Editora.












Laura Nery, carioca nascida por acaso em Montevideo, jornalista por um tempo, professora do departamento de história da Uerj. Tem um alterego, Madame Naura Lery, e uma assistente nipo escocesa: Aiko McLaren.













 Alexandre Guarnieri nasceu no Rio de Janeiro (em 1974), atualmente pertence ao corpo editorial de Mallarmargens e integra, com o artista plástico, músico, ator e poeta, Alexandre Dacosta, o espetáculo mutante[versos alexandrinos]. "Casa das Máquinas" (Editora da Palavra, RJ), de 2011 é seu livro de estreia. Seu próximo livro, "Corpo de Festim", aguarda lançamento para 2014.






 
Maíra Ferreira nasceu em 1990 no Rio de Janeiro, onde mora até hoje. Atualmente, cursa Letras pela UFRJ e trabalha na escrita de seu primeiro livro. Também já colaborou com a revista Letras et cetera e com o Portal Cronópios, além de publicar pequenos textos em maira não mora mais aqui











 

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