Este anjo
Não olha para trás como o Novus de Klee
mira no presente contínuo
a irrealidade infinita
da dor
que não pode ser aplacada
Nem por nossa indiferença distraída
ela
destroçou suas asas
agora enterradas
são uma samambaia negra in vitro
memória do irremediável feto
acalentando a melancolia
com seu grito
mas estes olhos anseiam
pela explosão de tudo o que vive
principalmente a do Sol
Olhos-anunciação
no fim irão trincar o vidro
a cabeça se curvará
até a ossada
do último
por enquanto os ainda
vivos
os profundamente sós
que não sabem que estão sós
criam suas projeções
mas estes olhos sabem
entre
a vida e morte
fronteiras não existem
poemas e problemas flutuam
no ar
onde este amor se dissolve
num centro que jamais esteve em nós
e depois também morre
nada se move
só este olhar
no fundo dos oceanos
fala
enquanto o tempo
para fora
do espaço
corre
Marcelo Ariel
escrito aos 17 anos