Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

3 poemas de Jádison Coelho

$
0
0
Galloping horse - Edvard Munch




DESAGRADO


Desagrado:
Estou inflamado
E minha língua presa na máquina de escrever.

Desagrado:
A minha verve é ainda maior,
O meu pudor é de sempre estar nu e só
Lascando o pau em quem ondar tirar
E no alto clã se posiciona.

Desagrado:
Pela missão de um diabo morado no meu pulmão,
Que respira sabão
Entupindo a narina do que dizia.

Desagrado
Porque sou a verme caseira no labiríntico reto
Ovulando...Ovulando...Ovulando...
E a mim pouco importa se nisso está a merda de poesia.

Sendo um miserável que ainda
Mesmo leproso de cruas palavras escreve
E morre defecando a cada dia,
Sou tragável, sou um desagrado pelo beijo dado
Nas mãos, olhos, boca, tripas e escrotos
Dum íntimo cigarro,
Dum Mestre Sexual: Gregório
De matos e guerra vã.



BIRUTÉIA


NÃO SOU FAZEDOR DE PALAVRAS
O DIABO FEDE A FLORES
NÃO FUI EU QUEM INVENTOU OS SENTIDOS
O DIABO CHEIRA A ENXOFRE
NÃO FUI EU QUEM AMARROU OS VERSOS
NUMA LINHA ARAMIOU-SE
PÔS EM BAGUNÇA
POSER EM DESAFETO.

É GOSTADO DA CASA DA MÃE JOANA.
QUANDO NO FINAL,
AFINAL,
AONDE ESCONDERAM DISCÍPULOS, PAGÃOS?

MESMO AINDA QUERENDO,
QUERO MAIS NÃO
NÃO QUERO ENCHARCAR-ME EM POESIA
TENHO QUE TE CONTAR,
CHEGA MAIS PRA CÁ
(E BEM BAIXINHO)
O DIABO TEIMA EM NÃO MORRER POR AFOGAMENTO
NÃO HÁ MORTE PR’ELA MESMA
É QUE O DIABO NÃO DEVE MORRER
(E BEM ALTO)

HÁ VIDAS EM LOUCOS!



Esses dias,
Os quais me tranquei neste quarto,
Movimentei-me para o Oeste a descobrir Outros
Lugares e tempos invertidos,
Quais esses, os meus olhos, até ontem não viam de enxergar.
São inspirações que transpiram nos poros das minhas mãos,
Aquelas amputadas, que tateiam gentes e futuros ainda tão longes
Embaçados no horizonte de um velho marujo em naufrágio,
Em prisão de ser liberdade aqui
Num não Agora que se foi partindo.






Jádison Coelho(1992), natural da Atlântida Negra e do planeta Marte, poeta baiano, graduando no curso de Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia, pesquisador nas áreas de Literatura e Cultura, uma voz em vozes mescladas às identidades múltiplas, que constituem um espelho quebrado em estilhaços despidos de poesia escancarada na garganta virada. Participou dos projetos “Bate Papo Musical”, antologia “100 poemas 100 poetas” e integra a comunidade de Luso-Poetas. Atualmente trabalha para a publicação do seu livro versado, “Filho de Nhá Bahia”, que acende os temas da ancestralidade, identidades baianas e brasileiras, memórias e o cotidiano da cidade de São Salvador. email: jadisonc92@gmail.com



Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548