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Channel: mallarmargens
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"dos que me cabem"

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Sou a redenção dos credos,
o vômito dos miseráveis,
o aborto dos amores.
Sou os gritos de Frida,
o desgosto da ferida aberta no peito.
Sou o paetê das drag queens,
as madeixas de Bethânia.
Sou o subliminar dos rituais,
a vacina anti-tudo,
o espermatozoide criador.
Eu sou a vida que não vingou.
Sou a Vaca Profana de Caetano,
o eco Barato da voz de Gal.
Cabe-me ainda ser o último suspiro do orgasmo,
o desejo e o Tejo de Hilda.
Eu sou a azia do café da tarde,
sou o cansaço das costas.
Eu sou a pele das negras,
o cacheado púbico das pretas.
Sou também o mastro do homem,
a penetração da ira.
Sou a droga, o lixo, o podre.
Eu sou o breu da alma aperreada.
Sou o pó da areia,
o barro da Terra.

*imagem: Elizaveta Porodina




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