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3 POEMAS DE VERA AMERICANO

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A RUPTURA


No meio da noite
com uma espécie de rangido
ela simplesmente
se instala.

É assim:
tão de repente
e voraz
que todo o ar
é  tragado
e a língua aturdida
não ousa formular
palavra alguma.

No final
os nervos
arados pelo tempo
buscam
a sombra.
Tudo para,
estagnados todos,
embora a manhã
acomode os despojos
e as unhas continuem
indiferentes
a crescer.




RELANCE


1.
não é o tempo
a exumar lembranças.

sequer o dia
estilhaçando o flanco.

atrás da pele cálida
eu mesma:
pura tormenta
em teus afetos brandos.

2.
o fino som
de um traço sobre a areia
risca o acaso
desse amor vindouro:
em nosso peito
ilhado
a tarde em cheio.




BODAS


A memória
desloca uma peça
e tudo muda:
o ar menos denso,
a garganta pronta
para a palavra mais terna.

A exclusão constrói.




imagem: Pierre Beteille



*    *    *




Vera Americano nasceu em Minas Gerais. De família goiana, esteve entre Goiás, Rio de Janeiro e, depois, Brasília. Estudou Letras em Brasília, na UnB, e fez mestrado em Literatura Brasileira na PUC/RJ. Foi professora de Teoria da Literatura na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. Em Brasília, trabalhou no Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e na Consultoria Legislativa do Senado Federal, na área da cultura. Publicou A hora maior, poesia, 1970 (1º prêmio da União Brasileira de Escritores), e Arremesso livre, poesia, 2004. Tem poemas publicados em jornais, revistas e portais especializados em literatura.




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