/Helena Figueiredo/
Vamos trabalhando madrugada adentro
com visto precário
vamos alojando ideais sem nexo
num novo sacrário.
Vamos trauteando funestas estrofes
pelos corredores
vamos dissipando o nosso futuro
nas mãos dos credores.
Vamos apanhando do chão as migalhas
que nos querem dar
vamos esperando que uma gota de água
inche e seja mar.
Vamos mitigando a sede de aurora
com copos de vinho
vamos sufocando esta voz que chora
nos lençóis de linho.
Vamos esquecendo o filme de horror
com telenovelas
vamos esgotando a desilusão
no sexo sem elas.
Vamos vasculhando com olhos de inveja
a vida do outro
vamos encetando fúteis desafios
que correm no esgoto.
Vamos protestando com chavões antigos
que soam a podre
vamos aplaudindo gentinha miúda
com porte de nobre.
Vamos sublimando a fúria crescente
no estádio
no trânsito
no circo de feras
gritando
gritando
olé
e se nos perguntam
como vai você
como vai você