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LUZ EM TAÇAS NEGRAS

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                                     Luís Costa 


UM HOMEM afia a navalha.

depois  lava os pés de sua mulher
com a noite que lhe escorre da testa.
beija-os morosamente.

silêncio.
uma flama erguida na treva dos corpos.


DESÇO aos matadouros nocturnos
escrevo com quem trabalha a carne
com a sede dos bisturis.
                        
                                   ( para Luís Miguel Nava )


AMO esta sombra
esta sombra fecunda dentro da luz
esta sombra de grandes asas douradas
que mora em mim
e me fecunda
com a ternura das feras.


AMANHEÇO
a minha alma está húmida
é a humidade das feras
a humidade do estremeção
que me habita
como um mar dentro das conchas.


DENTES famintos de carne
violentos
onde todo o amor nasce
a morrer de desejo.


AMO-TE.
como uma navalha em riste.

adormeço em ti com a serena violência
dos animais famintos. 


SE O CAMINHOé a poesia,
pois bem, vou-me desfazendo em poesia.
por fim ficará um cadáver

e as feras / cantantes / ao redor.

In: ÓSTRACOS



Imagem secreta


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