exactamente perdida margem
a idade antes contudo aflora recomendo o mundo
o mapa outros amores e rancores a paisagem
apodrece como espelho o disfarce sombras
de seiva ocidental
se apaga aceso corpo meu leito pêlos e estações
cartas tua erva pela manhã os cheiros
licor em prefigurações
deixa rasgado litoral nos salões da história ferramentas
as cinzas tal mente
por fora escombros cavernas antes que poesia
tudo deixa atravessada paz exatamente perdida margem
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.11
Janelas os Degraus Sombras
corpo vago a sombra deitadas palavras
vísceras os profundos dias
adolescentes festejos mais escuras as ferrugens onde pernoitava
para sobreviver sossegava os corpos nas persianas
longa estrada amanhece o sangue cansado espelho o pé
paralisado talvez seja degrau as oceânicas sombras
deste país abre os mares oca vontade o mesmo passo à luta
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.19
cicatrizes os espelhos
falar ao rés palavra incandescente
arremedos o gráfico de linhas varanda
decerto, as paredes abraçam os encantos cinzas
a poesia cresce azul além das pontes línguas
o histograma amordaça cego fóssil
fio de pó os alicerces elevados pássaros
as águas dos pés sob desertos
fundam duras cicatrizes a frequência de espelhos
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.12
e nem são semelhantes oh nunca dina
a face intrínseca cinza o mato porta espessa
o centro da cidade palavras sem cidade
abraço desordenado cenário o beijo exílio
aflora frio fruto feito flor flutuando fechado
corpo refaz-se barbudo estigma centrada pátria
adjetivos aos pares os advérbios sem verbos os nomes
e nem são semelhantes, oh nunca dina
os vestígios antecipadas normas habituada incineração
o povo coincide com a vidraça nasce pequena lembrança
face intrínseco deserto o mato porta espessa
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.12
Talvez dobrado azul
não é verdade talvez me esqueça velhíssimo do cansaço
debaixo do pé um sinal revés no cimo a boca
só a boca a alcançar a porta morta nas luzes tristes destes lábios
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.32
alicerces da luz
entre cores e sombras a luz pêndulo crescente
imersos, alcança a emancipação, vai fundo
dilata imagens entre alianças dissolve o alicerce da luz
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.36
quartéis os furos de casa
as veias sémen debruçadas minúsculas incandescências
a cinza o carvão o cachimbo o cigarro
sinais maiúsculos a noite
por uma sílaba cicatrizes abrem a porta
regressam a superfície artérias e trepadeiras
tijolos cujas paredes guardavam
pouca luz ao atravessar jardins crianças tardes de fogo
desce pelos metais o barco visita quartéis os furos de casa
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p. 21
uma mulher a sombra do poeta
depois os árabes adormecem subúrbios
no regaço aquários da bota orvalhada luz se apagava
proeminente aonde quisesse rasgava saiotes
e assaltava com as palavras os rijos jornais da noite seios
comigo húmidos habitavam os peixes magoados
no rosto do primeiro livro um beijo um vapor
os guerreiros curados e cansados lábios há três dias
operadores negros comiam e bebiam rios
as auroras em festa lentamente sobre a sombra do poeta
viajam transportando águas e cidades na garganta as
águas e cidades escrevem a luminosidade dos pés
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.20
Sentidos aquartelado papel
pernoitam portas envelhecidas
superfície sobre o papel estrumados sentidos
por cima da mesa lágrimas
estendidos dícticos cujos os sentidos de pó velho
renasce a cidade
dá cor caiada as galáxias bocas com zoológica consistência
sinalizada fica a cor dos ossos
outros corpos inocentes campos lavrados campos as veias
debruçadas em minúsculas incandescência mancham
a outra cidade entre partos paralelos lamas cinzentos corpos
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.22
mantenha o pé se lhe pode falar
a luta quentes resíduos de cal lembra a aurora
dorme o corpo lambido mal sabe donde vêm os sentidos
percursos: eis a deriva sinuosa escrita geometrias
ao sair a pesar da ruga aberta no fundo o destroço avança
eis a travessia viva em túneis a matéria prima desce
a água sobre o papel penetra-o feliz sobe
lugares como o mundo arde a língua contaminado espaço
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.23
Abreu Castelo Vieira dos Paxe, nasceu em 1969 no vale do Loge, município do Bembe província do Uíge, Angola.Licenciou-se no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), em Luanda, na especialidade de Língua Portuguesa. É docente de Literatura Angolana nesta mesma instituiçãoÉ membro da União dos Escritores Angolanos (UEA) e venceu o concurso Um Poema para África em 2000.Foi animador do Cacimbo do Poeta na sua 3ª. edição, actividade organizada pela Alliance Française, por ocasião da dia da África.
Figura na Revista Internacional de Poesia "Dimensão n. 30 de 2000, na antologia dedicada à poesia contemporânea de Angola, editada em Uberaba, Brasil.
No Brasil, foi publicado nas revistas Dimensão (MG), Et Cetera (PR) e Comunità Italiana (RJ), Portugal, na antologia Os Rumos do Vento, (Câmara Municipal de Fundão). Publicou A chave no repouso da porta (2003), que venceu o Prémio Literário António Jacinto. e VENTO FEDE DE LUZ, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2007.