UM GRITO MUDO
Nós o matamos. Foi preciso.
Explicável. Injustificável.
Então
após a ferida cicatrizada – possível? –
Pesadelo.
Tu, agora, mais vivo do que nunca,
vingas a tua agonia muda.
REDONDILHAS À TOA
Inspiração não a tenho
Transpiro muito e peno
Rascunho, rasuro, sofro
Espremo, escrevo, verso
Na página em branco, morro
Letras mais letras se juntam
Em signos sem serventia
Em ritmo sem maestria
– Ecos de palavras ocas
Ressoam num poema à toa
Que como tal é inútil
Versificação mais fútil
De um exercício, labor
Sem inspiração – suor
Sentido há no poema?
Foto: Luca Pierro
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Bruno Lima é doutorando em Literatura Comparada e recém-lançou seu primeiro livro de poemas (Pretérito Imperfeito/ Editora Multifoco). É carioca da gema, nascido na Praça Mauá em pleno dia do samba. Com seus olhos verdes, é pai de três Marias (Eugênia, Antônia e Cecília). Mantém os blogs "ensaio de si" e "editorial primeira pessoa".