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A POESIA OSCILATÓRIA DE MÁRCIO CALIXTO

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Colagem do livro Une semaine de bonté de Max Ernst (1934)



Os teleféricos e as tesouras travam duelos
a sorte dos ventos e das poeiras
encontradas nas solas dos dervixes rodopiando
no eixo da Terra,
assistindo a batalha sonora dos cains abels
procurando arados perdidos
nas selvas dos tempos
que cresceram em seus olhos 
diluídos em vasos e levados
pela ponte do desequilíbrio
pelas mãos delgadas da dama insana,
de onde um coração é arremessado após ser arrancado todo dia
em um dos quartos do príncipe vingança
e ele sorve os dardos
que encontram o dorso da tempestade
e sonha com o escorrer,
a sangria dos minutos
e seu êxodo constante,
trazendo no seu bojo
novos astros e cadafalsos.




ENQUANTO ISSO NO CLUBE DOS HAXIXINS...


Uma sombra entra sorrateira na sala de máquinas,
a senha: um cadáver delicado, ela sopra
e puxa alavanca dos sonhos e os ativa.
Pode ser aquela me espreitava
de dentro de algum retrato-relâmpago.
Peixes se rebelam no aquário-arena
e estouram em uma Pamplona aquática.

Este é meu cérebro que é dado por vós!

Há uma liquidação de corpos tristes,
rolando na cerâmica colonial como perfeitos infiéis.
Alguém vê a Santa Inquisição subindo de joelhos
a colina bordada de terçóis e heliantos carnívoros
& o Velho da Montanha espera pelos viajantes
e suas xícaras dervixes rodopiantes,
vão de mão em mão.


Este é meu cérebro que é dado por vós!


Eu arranco os pés da minha alucinação
e ela voa por sobre a brasa dormida de um sol morto.


Na câmara azteca, se esvaíram todos os gritos seculares
dos que foram engolidos pelos vórtices solares. 


Este é meu cérebro que é dado por vós!




TEMPO DILACERADO



tanto tempo dilacerado,


acelerando os corpos,


manada de búfalos


em ledo engano


rumando ao longe,


rasgando os campos


dentro do peito humano.




DE REPENTE A HARPIA E OS CARNEIROS SONÂMBULOS


Estamos entrando na pátria da noite
com nossos corpos sutis e botas molhadas
pelas águas dormentes onde encontramos Ofélia,
mas, não ousamos ofendê-la nem em nossos sonhos.

Enquanto a lua queima nossas peles,
nós resistimos ao avanço das areias movediças,
com os astrágalos cobiçados por belas mulheres
que apenas sonham em jogá-los ao ar, lançá-los à sorte.

Somos encharcados de argila pelos vãos da Antuérpia,
uma Harpia irrompe do seio de uma Novarupta,
do êxtase anunciado pelos punhais deliciados,
com tantos sacrifícios nas retinas entreabertas,

tantos degraus escondidos nos fios de prata,
musas saem da lâmina de plumas descendente,
guilhotina flutua no ar, longo assobio estridente
e os carneiros sonâmbulos são caçados no azul da mata.






Marcio Calixto, poeta e compositor nascido em 26/12/75 no dia da lembrança. Participa do Coletivo Surrealista "deCollage". Junto com o grupo, fez parte do filme/documentário "Assombração Urbana" sobre o poeta Roberto Piva. Participou da exposição El Umbral Secreto e tem poema editado na revista do Coletivo Derrame (Chile).

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