KLEE, Paul – O Conquistador
“O que há de melhor no amor é a iluminância.”
Manuel Bandeira
sol no
látex (halo
em
asfalto)
Midas
crepuscular
flamejando
faixas
na
bike
eu passo
e ao
ver os
fachos
toda
treva da minha
vida
adquire sentido
fantástico
depois que fizemos amor a noite inteira
um longo
e luminoso
cone de ouro
cruzou lentamente a cozinha
ungindo vidros paredes cortinas
até tocar nossos corpos
no quarto
foi como se sinos
nascessem do sêmen
e em torno
da cúpula uterina
um coro
de Angelis
laudasse a Deus
- alados
e lindos
adormecemos
IMIGRANTE
na
ponte
pura
do
teu corpo
extenso
há o
sexo
como
centro
(marco
mais alto
do
arco)
dele
as luzes alçam
rumos rolam
e centenas
de crianças
rindo rente
a nós
passam correndo
minúsculo
é o mundo
lá embaixo
chego
- dentro de ti -
ao outro lado
A UM CORPO CELESTE
as explosões
no sol, eclipses e
cometas:
tudo sai
nos telejornais, exceto
tua face
quem
lembrará
teu corpo
daqui a
quarenta anos?
quem saberá
que tua boca
foi dos fenômenos
mais lindos
da natureza?
astrônomos
lembrarão
colisões de estrelas
novos planetas
mas não
de ti
no entanto, cruzas
esplendidamente
meu quarto
às onze da noite
e mesmo
longe de lentes
és a forma ardente
que desde sempre
o homem quis ver
PRIMAZ DOS POLOS
ELA
a
primaz dos polos
fonte rodeada de pombas
EU
o
amor e o medo
todos afetos estupendos
ISOLADOS
miocárdios
e poros
suspiros
e íris
nos mais
deliciosos
momentos do
orbe
unimos
gritos e
gáudio, a ilusão
do indiviso
le feu
et la folie
dos cinco
sentidos
tudo em
cinzas
cessa
e à beira
do abisso
só nos resta
essa ferida
reaberta
do infinito
A VERDADE
como a folha de cummings
e
l
a
v
e
m
e nada
resta senão
em meio a flores falidas
findo o avatar
do verão
deixá-la
icaramente
tombar na ilusão