foto: Beatriz Bajo
I
existe um mar dentro de um envelope sem remetente
a tinta usada para a carta é opaca
talvez escrita a lápis
existe uma constelação de palavras sem significado
aparente
quem sabe ápis
um tanto de saudade nos olhos de ressaca
atravessados
II
existe um pé dentro de um galope sem acidente
o tango traçado para o corpo empaca
talvez uma cicatriz
existe um coração descompassado
saliente
quem sabe aprendiz
um tantã de samba gris na mão que aplaca
inveterado
III
existem países dentro de um xarope sem entorpecente
o tinto bebido para o peito é faca
talvez arranque a raiz
existem línguas aladas sem agasalho
frementes
quem sabe fuzis
um tasco de silêncio na tez que arrebata
bordado