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Channel: mallarmargens
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da série "no amor e na guerra...": o bar dos soldados

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o bar dos soldados




sob a noite de um céu cindido, sanguíneo, prestes a colher chuva (mas de nuvens alaranjadas, quase lúgubres ou tingidas de púrpura), o súbito véu espúrio que paira acima da cidade bombardeada se espraia, cromatizando o crepúsculo para além das quadras que ardem (à brasa lenta, um enxame aceso ao madeirame), ainda em chamas. estamos num lugar subterrâneo, o ar viciado. mas estamos juntos, entre o burburinho do noticiário dúbio e a fumaça ruim dos cigarros baratos. é outro tempo. esse chão tão fustigado por botinas e coturnos úmidos. sei que me arrastei nele. rastejei até aqui, por você. em você, amiga e inimiga se imbricam. nem sabem oque resolver. reconheceria de olhos vendados o assoalho desse bar de soldados. aqui, amigos e inimigos, mesmo em lados opostos da artilharia, compartilhariam a mesma bebida, os mesmos drinks preferidos, onde se suporia haver uma sólida trégua, respeitada sem reserva, nenhuma toxina afetando os nervos. todos ali acreditando falsamente, na ilusão do término, daquela guerra bioquímica // mas agora é a hora // é agora // o momento de pôr as cartas na mesa. as facas na mesa. de abrir a clareira. de expôr às armas toda a fraqueza. há sempre tanto medo, uma desconfiança sem tamanho, por algo (uma bomba?) que se esperaria haver sob a lama. toda pequena mentira plantada em solo fértil frutifica uns estranhos brilhos nestas mínimas vagens sinistras (dentro das quais, e em cada uma delas, no íntimo, há um pequeno guizo zumbindo), há bagas envenenadas, habitadas por minúsculos répteis que se atam/ desatam, numa curiosa luta, uns contra os outros. que se lançam (numa dança?) uns nos outros. que se matam, porventura, uns aos outros. na última valsa da batalha, estes inúmeros ouroboros, nadam num barril de pólvora! pois então, madame, por favor, bartender! poker! cronômetro sobre o feltro! cartas na mesa! há facas sob a mesa ou peças no tabuleiro? nessa mesma arena sobre a qual as lesmas de sempre falseiam, arrastando as próprias vidas sobre o visgo, do entremeio. eis a mesma mesa de sempre, no corner entre o balcão e a parede. prefiro um ataque à faca a uma cartada falsa! a sorte lançada, uma granada às claras (azar? ás na manga comigo não!). no xadrez, no poker, no gamão, prefiro o street flash a um blefe! no bar dos soldados, (por matéria meramente estratégica, diriam, "por uma rota de fuga se lhes faltar a ternura") cada parede que não fosse contígua à porta dos fundos, 'mais dia/ menos dia', simplesmente explodiria.





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