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da série "no amor e na guerra...": ...a voz suave que era uma lágrima

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"...a voz suave que era uma lágrima"



os soluços engasgados (de choro) da companheira o enervam
(ele grita), pede que pare, se concentra no caminho tortuoso
à frente (entre vielas estreitas enquanto ele a puxa pelo braço)
que, por sua vez, faz arrastar quase sem equilíbrio o resto do corpo,
quase à força, se não fossem ainda os tropeços, as passadas sôfregas
também o irritam (porque tantos detalhes detendo o avanço ainda
somados aos solavancos) daquele choro convulsivo dela (e tudo os atrasa
ainda mais), parece que fogem (ou que ele foge dela, apesar de arrastá-la)
e eles são como peças soltas no cenário efervescente do conflito urbano,
um guerra civil interposta entre ambos (ela chora), eles correm,
(ela lacrimeja e grita, aturdida), os olhos são bolas de sangue,
réplicas de planetas inteiros onde a hidrografia seria esse raiado
de vasos à vista, irritados; passado o susto, a ânsia de salvá-la,
agora ele a abraça apenas repetindo, aos seus ouvidos,
o que já tantas vezes havia dito, mas era algo que ela jamais
poderia ter sabido, até agora, e ele então a abraça ternamente,
já refeito e mais tranquilo, ela ainda chorando de olhos machucados,
ele diz: "é sempre assim, meu amor, o primeiro contato direto
com o gás lacrimogênio"; e são ambos rebeldes em fuga,
amantes perseguidos, atingidos em cheio pela bomba de efeito moral
(muito embora toda bomba seja imoral), entretanto lutam,
são militantes políticos, atirando coquetéis molotov,
contra um ditador que nunca viram.


imagens da crise no Egito
jan/ 2013





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