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a realidade por trás da realidade por trás da realidade nos poemas de Izabella Zanchi

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A CÂMARA VERMELHA

Castelo; Incesto; sombra azul-morte que vaga em silêncio, paredes em silêncio.
Matéria de casa carcomida, matéria podre, carne nua esverdeada.

Escadaria para o finito.

Lúgubres portas desmaiadas, céreas, falsas, apenas câmara que pulsa,
mater (mãe), à espera da devoração.

Amarelo-limão repelente, enjôo, repulsa, ânsia de bebê nauseado à beira da loucura. Espelhos, espectros, carrilhões, alçapões, quartos de cristal, gaiolas em ouro; cama de contenção vertical com mundos abismados e tristes, contrição, devotamento.

Vitrais mortos, fetos bailarinos em gaze macia,
labirinto mental de aço espelhado,
castelo, labirinto mental de múltiplo/esquizofrenia/hebefrenia/
parafrenia/agonia/mania/astenia

morada de lascivas personas, amante humanóide, mente planetária...
personas roxas internas, personas verdes externas, alma entrevada.

Castelo vibrante de cor berrante e matéria viscosa,
espuma empapada, gosma, líquor, fluídos doces vaginais, líquidos do corpo,
suor, cruor, tara borbulhante, vulva morta rugosa,
línguas úmidas corrosivas; peles roídas; almas esquálidas,

pneuma, atma, almas, magma.

Castelo de metal com salas profundas.
Quarto dos ácidos, sêmen percloretiano de pai nauseabundo, o Incesto,
paredes de ouro velho comidas por ácido,
beijos lesivos da boca de amante Incestuoso, volúpia, solidão, Incesto, loucura –

a loucura.

Paredes em sanguínea, sépia, siena queimada,
paredes com sangue sempiternas queimadas;

luz magenta, vida e vozes,
Incesto, mundo paralelo;
plano da realidade/luz branca fria,


Cachorro louco,  rinoceronte feminino e 4 avezinhas/avestruzes/gatinhas moídas
no moedor de carne, Bolinhos Macios e Saborosos.


Corpinho no cadafalco desapareceu (In-ces-to),
enforcada agora é estátua, limbo que se abriu/realidade
em branco preto ou cinza.

Múltiplo se cortou. Múltiplo se engasgou. O Incesto.
 Estátua sorumbática e frígida.
Quartos trancados vazam aura azulada,
portais intramundos circundando câmara vermelha.

Rainhas perversas dominam espirais longuenetes márcidas, vales da morte,
torres do bem/torres do mal.

Sombras iluminadas que vagueiam alucinadas e dama medieval de azul-profundo
de um oceano em vertigem,
seus gritos de adeus, seus cantos de anunciação, tristes ladainhas/jantares iniciáticos, braços mutilados, adornos, pútrida satisfação.

O incesto.

Móbile de um  crânio minguante na caixa do firmamento, amor claustrofóbico, Cachorro Preto, cachorro preto minguante deita no céu encovado.
Rabecão preto uivando para a lua.

Uma torre roxa diáfana de nylon serigráfico traz luz vermelho-sangue sobre desenho de mãe mutiladora.
Rainha em estase incomunicável, ex-semovente, ex-tara mecânica vagueava em círculos no passado.

15 minutos e novamente badalar do sino vindo de abismo tampado proibido.

Vento autodestruidor viera por dentro de carcaça de papel arroz de criancinha fóbica.

Torre de rainha ficou tonta,
face de rainha tortuosa tem tom amarelo de vômito de noite anterior.
Casarão com banheiro. Banheiro embutido em parede tapada de tempo.
Em bidê, boneca de louça afogada – Anais, Anais – com olhos vidrados, poço do infinito.

Velas altas amarelas suspiram trazendo inscrições Pax Recometernum.
Incensos de macumba exalam luz mortiça magenta sob luz branca intensa,
arde no caixão de ladrilhos amarelos frieza virginal de necrotério.
Seus vasos de flores negras.
Seu vaso sanitário com pérolas negras e diamantes.


Cortinas em plástico preto isolam Cachorro Assassino no jardim.

Personas frígidas femininas dormem em corredores amarelos-limão;
quartos roxos guardam profunda depressão encravada em espelhos lunares
com cova aberta, azul de céu sereno.


Damas em roupas brilhantes berrantes causam enjôo, provocam vômito/enxaqueca,
seus tons rosas brilhantes e amarelos com ouro puxam violência infanticídio recometernum dominus domini perpetum (patiame)/cega-me
no terno domínio patético no pontiac, Pai, P-A-I!!,
pai, seu pontiagudo baú dos crimes,
vale de morte sexual e contemporânea;

 mater santa/mater demônio observam tirando música sagrada de turíbulo tristíssimo (dominus domini).

Irmãs hermafroditas, seus olhos luciferinos.
Ventarolas em paredes emitem vozes murmúrios de aprovação.

Platéia sádica quer assistir à evisceração.

Espinheiro de veludo com pontinhas de punhal é leito macio de procusto Pai;
pai amado, P A I!
orientador, Cachorro Louco, Cachorro Calvo,
luna em negro assassina e feroz.


Elevador encontra realidade estirado sobre castelo devorador.
Estrutura de aço corroído, pele com ácido, tentáculos de gaiola satisfeitos.
Sobe e desce em diagonal com várias saídas, duas com mordaça,
Voverino/Vulvuterino ascende homem-cão.

Luz, ruído som, cheiro amarelo separando realidades internas.
Personas cinzentas que extrapolam mundo.

Lógica de realidade é morte mental progressiva de Lisa/Ema,
óvulos de dormonid/louca de espaço superficial.

Cama de contenção;Flor Bela.
Depressiva suicida/elaboração das tendências tristíssimas vulgares – lama de arroz sobre prato de prata.

Pátena.

Carne viscosa crua.
Soma, estase, peçonha, entrevamento, sangue com sangue.
Tara Dominante. Genes de Procusto.

Porão verde-limão aberto com estrondo, cama de contenção em vertical.

Depressiva suicida amarrada, siamesas se entrevando, depressão psicótica,
depressão fóbica, psicose maníaco-depressiva.

Sádicos com o nº 3.

No quarto de luz vermelho, espelhos sangram,
fraca luz de onça que refulge/pisca, repouso de 3ª filha.
Múltiplo estática, trevosa, paralítica; som de respiração, calor de coração.

Górgone materno-sádica singelamente visita de ocasião.
Círculos revoltos ao redor de esquife,
recco-me eternum, rekame eternum; vagidos.

Bebê esquizofrênico parte bracinhos a dentadas. Taras psicopatógenas surtam sorriem, tigre travestido tem patas de ferro (sobre bebê).

Cama de contenção levita.

Louca de família tem face de leviatã lotado de raízes,
volac colérico se transmuda/ressurge mania,
Maia, Maia, serenidade púrpura.

“Síndrome de loucas”; tara patológica alucinógena transita em realidade cinza.
Fim.

Luz roxa é desligada; gás expande-se em borbulhas, morte lenta serena, ensimesmamento doce fluídico, hora canina de amor, dilaceramento.

Menina morta abre limbo.

Blecaute em caixão de música.
Fim/fim.
Lago negro dominante sobe de elevador.

Cura esquizóide reina (esquizofrênica dentro de corpo).
Estase, beleza, beleza parada, sudorese, cianose, magma frio azul, lira incandescente.

Mortas de amarelo procuram línguas mortas nas bocas de amantes.
6 mulheres frígidas vagam, matam-se; suicídio é bom/aniquilamento, prazer suave –
o múltiplo carrega sombra semovente flutuando rumo ao cadafalso.

Pai de negro acende velas altas, sombras roxas malemolentes exibem machados de ouro, larga morte preciosa depositada em urnas de cristal,
relicários com flor de ouro, estufas de vidro em copos de leite como seios de
mãe maníaca,
loucura,

o recometernum, túmulo, fé vazada, olhos negros, irrazão, a loucura.

Pai em negro sussurra dominus domini, perpétuo pax diabo.

A cada quinze minutos recome-ternum/dominus –janelas abertas;
à capela lobo materno soprano respira lava de vulcão.
Raponços, gengibre. Cai lâmina de 1º machado.

Bebê trucidado emite suave vagido, se aquieta.
Livre-se noite de choro e agonia inexorável.

Encaixotada eis psicose maníaco-depressiva.

Dentro de espelho criança renascida segura falo/taça de sangue...
jaz com vidro sobre os olhos para sempre.

Rainhas márcidas nascem.

(Série Pesadelo/Maria de la Ralde (pseudônimo poético de Izabella Zanchi)






 O CRAVO E A ROSA NO PRECIPÍCIO

(O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
Sacada/o cravo saiu ferido e a rosa)...vozes desgraçadas as das
3 filhinhas cantando  -
Enquanto ardeis, amores tão tristes, loucuras de paixão perdida num tempo remoto,
O coração do pai; arde-lhe o peito
Como na noite em que a filha Um
O desafiou.

Ah a filha amada!
Ah as estrelas do firmamento? Por que querem
Brilhar intensamente agora? 
O amor morto revive entre os relicários dos brilhantes?

Céu roxo como num velório, as vozes se expandem. (o cravo saiu
ferido, e a rosa despedaçada....o cravo ficou doente, a
rosa foi visitar, o cravo teve um desmaio)...o pai indicava as flores de neon noturnas à Nmber One
ensinava-lhe os nomes... - onde andará a outra, outra
mulher outrora amada, hoje perdida ! –

olha de soslaio para a esposa, sim, é bela ainda; respiração de flores, para onde foi,
pulsação de rios, meu amor, esquecimento,? vai embora com as
águas – olha para a estrada,

lá embaixo o abismo... (e a rosa pôs-se a chorar).

A impertinência da filha atravessada no gogó, ó rebelde, ó subversiva!
Contra o pai?! Amoroso pai!
A dor o consome, leva a mão ao peito, a primeira dor
física da vida...mas o amor, o que é?

Caminho para a morte? Precipício?
Um relâmpago rasga a tarde negra e o pai espia pelo retrovisor
As 3 filhas cantoras:
Uma subversiva, a segunda putana, a outra louca.  "Amor,
Amor que partiste, que galhos tristes destas árvores que despencam

Neste báratro anunciando toda a tragédia e a dor!"

"Para quê estas brumas, para que estes ventos?" O pai
Entrevê os 5 corpos largados no fundo do abismo e o carro explodindo
Em fogo. Grita por silêncio.

- CALEM A BOCA!!

As vozes assustadas se calam.
Um choro se faz ouvir bem mansinho.
E as flores viscejam ao redor da estrada, roxas, lilases, vermelhas,
Plúmbeas,; sombras descoram e, num movimento funéreo, sussurram ao pai
Um segredo com a voz de sua mãezinha:

- Filho, meu menino de ouro, não permita que ninguém te machuque!

Estou suspirando, mãezinha! Mas a dor vai num crescendo, a tempestade se agita
Nas nuvens que se formam no céu sinistro, se
Acotovelam ao fundo –

(a rosa fez serenata, o cravo foi espiar, e as flores fizeram festa porque
Eles vão se casar). A dor exaurindo o pai
As vozes já não o comovem, não são vozes de filhas, são vozes de
Galinhas esganiçadas, boas de matar! - amor que se acabou
Partiu seus espelhos, os sóis voaram para longe!...

Noite negra e densa adentra a estrada.
Pai colocando a pílula sob a língua, o poente principia a sua calmaria e o seu
Terror cheio de mistérios; (o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada, e
A rosa despedaçada) – despedaçados corpos vibrarão no

Abismo, uma pinicada aguda atinge o ouvido do homem, uma
Zonzeira, “bando de assassinas”; a mulher ri, “não creio em Deus”, o amor
Perdido brilha qual diamante em meio às luas surgidas atrás das nuvens.
Afastem-se, vão! – amor, amor, seu espírito

É a loucura que me redime, e  a voragem se abre
À esquerda, a serra cresce,
(o cravo teve um desmaio e a rosa pôs-se a chorar )– pé na tábua, o silvo fino
No cérebro, a paz das flores.

Dançando na curva, o sorriso tolo da esposa traída
Olhando pela janela; as meninas cantantes

A morte é mãe do amor (a filha subversiva), (A mão que
Apertou- te o pescoço! Maldita!), as flores roxas da estrada fazendo o convite, ( a rosa
Fez serenata) – num átimo

O pai torce o volante à esquerda para o precipício - triste fim junto ao vento! -
Olha pelo espelho, vê os três rostinhos tristes, ouve
Os gritos femininos pavorosos - Ah vã quimera de um amor!
------------------------------------
No segundo seguinte, torce  a direção para a direita – ilusão soturna, círios
Brancos velando o teu rosto sob o meu corpo ardente; amor
Que não resistiu à chuva. E o carro
Volta a ganhar a estrada.
................
As flores dançam no asfalto, a tempestade com raios
Cai, abundantemente.

Silêncio mortal se faz na serra desmaiada.

Pulsação de rios invisíveis, almas contraídas, estátuas com corações
Ardentes batendo febris nas bocas.
O choro contido da mãe é uma taça de adeus que sussurra como
Um espírito nas névoas.  

Adormecem os plátanos, esquecem os pinheiros, calam-se as
Pedras. As 3 irmãs espiam o despenhadeiro com
A sua morte agoniada no fundo e dormem.

"A morte tem um cerimonial exangue; é esquálida, ictérica, amarela; seu rastro lento
impregna a estrada com uma alma transparente
e louca"
Respire, puxe o ar, inspire, 



no materno abraço as lágrimas serão esquecidas. 



(Sudários Invisíveis/Maria de la Ralde (pseudônimo poético de Izabella Zanchi)






___________________
Izabella Zanchi: Vive e trabalha em Curitiba. Atuou como atriz, dramaturga e diretora de teatro, migrando nos anos 80 para a área das Artes Visuais (artista, curadora e orientadora em oficinas), com trabalhos em pintura, gravuras em metal (ponta seca) e linóleogravura, sendo criadora da técnica hipertipia (agregação de solvente, variação da técnica monotipia). Seus trabalhos foram expostos em diversas exposições e mostras (nacionais e internacionais), integrando acervos como o do Weisman Art Museum. Em 2013, Shana Lima Adayme escreve uma monografia sobre o trabalho da artista para o Curso de Especialização em História da Arte Moderna e Contemporânea da Escola de Música e Belas Artes do Paraná intitulada "O Retrato na Gravura de Izabella Zanchi". Escreve poesia desde os dez anos de idade, tendo sido publicada em antologias da Revista virtual LOGOS.


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