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Arte de Mariano Peccinetti |
não há como pousar
em netuno
não há camarote seguro para observar
a mais gelada das luas
à sombra de netuno
na lua triton
você pode encontrar gêiseres de nitrogênio líquido
vulcões de gelo derretido
e pode parecer realmente inóspito
aos iniciantes da navegação
um pouco à frente
à noroeste de júpiter
você pode avistar io
lua mais quente do sistema solar
em io
tudo que toca a lava
vira lava
mas se insistir um pouco
pode ficar para ver
auroras boreais
pode encontrar os mais exóticos
segredos
das 95 luas
de júpiter
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Arte de Dimitra Milan |
certa vez percebi
que o tempo de um homem
não é o tempo de uma mulher
que o tempo do pensamento não
luta
como o tempo do instinto
e que há muita lógica para explicar
os desajustes da chama
ou da fisiologia feminina
está formado o cerco
(sob medida)
para enclausurar alcateias
eu que sei
quando finalizar uma discussão
quando ficar
e quando ir embora
eu que sei morder
na mesma intensidade
com que amo
deixo assim, tudo
nesse mundo
a seu tempo
tudo, por enquanto
à sua moda
soberana
de gênero
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“Corisca e o Sátiro”, de Artemisia Gentileschi |
(e quanto mais ela perguntava
mais ele se debatia)
enquanto isso
minhocas no parquinho
cumpriam seu destino
em potes de plástico
baiacus do pacífico
faziam 50 pessoas ao ano
provarem do próprio veneno
plantas carnívoras
prometiam devorar gorduras
submersas na preguiça
pessoas em manicures
formulavam hipóteses sobre cutículas
e o futuro da nação
(e quanto mais ela perguntava
mais ele se debatia)
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“Beware the Weight of the World”, de Jeffrey Smith |
tem algo nas grandes tempestades
nas grandes ventanias
entre o pacato e a tragédia
algo me mantém acesa
o entorno traz razoável aspecto de brutalidade
suficientemente necessária
que eu saiba, entretanto
da generosidade desse instante
não faz a menor diferença
e nada acrescenta sobre tudo
apenas estou:
antes do estalar dos dedos
antes do trágico das árvores
antes da catástrofe das ondas
antes da brutalidade do vento
antes que mudem de ideia
entre isso e aquilo
entre o que vive e o que morre
nesse ponto ainda consigo ver beleza
no singelo recado:
cuidado,
quem manda aqui
sou eu
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Carol Sanches nasceu em Campinas em 05 de agosto de 1981. Tem poemas publicados em revistas digitais e é autora dos livros independentes Poesias pormenores(2008) e Toda diva tem divã (2009). Os poemas aqui publicados fazem parte do seu livro mais recente, Não me espere para jantar, menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018 e com lançamento previsto pela Patuá em 2019.