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"a manta negra que nos cobria" - Ana Maria Vasconcelos

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imagem: http://vilamamifera.com/





Última carta

Ana Maria Vasconcelos

E se eu te disser, meu amor
[amor, sim, amor-amor, impuro, verdadeiro, amor até a última casca de futuro, até gastar o]
, que a manta negra que nos cobria
[nos empurrando para o penhasco das palavras duras que não querí]
, se eu te disser que: tudo pó? Ou: nem pó, fumaça?
[não, não, não, o calor sólido dos corp]
Fumaça luzidia e preta dispersa na fuligem dos ônibus e no gás metano das vacas e no escape dos banheiros públicos; bem-casado de vapores no veio sujo das cidades.
[o nosso para-sempre numa nuvem de mort]
E sem nem isso? Nemisso soprando mudo no cabelo imóvel da menina.
[mas... era... havia...]
E se eu nem disser?
[... amor.]

Vivíamos um fim de tarde: bonito e fadado
[um para-sempre solar, um caldo grosso de delícias, um estrondo desmedido, um]
, uma morte aquém-túmulo.

Pois eis o túmulo:
.


Ana Maria Vasconcelos é alagoana e mora no Rio de Janeiro. Estuda literatura portuguesa (Mestrado/UFRJ) e escreve. Mantém o livrivências. Email


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