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Imagem: screenshot de uma rua |
oração
o homem sentado ao lado escrevendo uma oração
papel de rascunho apoiado sobre a pasta preta de trabalho,
a caneta apressada faz pedidos em frente e verso,
sem parar,
uma duas três estações:
quem ora tem pressa,
a fé ali naquelas linhas
naquelas mãos manchadas
papel azul cheio de fé no vagão cheio de pressa.
se eu fosse deus parava tudo que estivesse fazendo,
parava o tempo,
deixava de lado a fila dos pecados,
a conferência das bolinhas do rosário,
eu abria o mar,
qualquer mar,
para este homem que abre caminho com palavras.
papel de rascunho apoiado sobre a pasta preta de trabalho,
a caneta apressada faz pedidos em frente e verso,
sem parar,
uma duas três estações:
quem ora tem pressa,
a fé ali naquelas linhas
naquelas mãos manchadas
papel azul cheio de fé no vagão cheio de pressa.
se eu fosse deus parava tudo que estivesse fazendo,
parava o tempo,
deixava de lado a fila dos pecados,
a conferência das bolinhas do rosário,
eu abria o mar,
qualquer mar,
para este homem que abre caminho com palavras.
(dest)hino
às margens do ipiranga corre plácido o esgoto
o povo heroico cada vez mais calado
o grito entalado
censurado
sol tem, liberdade nem tanto
penhor de igualdade não conquistamos
não vemos
nem comemos
só ouvimos falar
braços fortes em luta por liberdade agora em fuga
no peito o desafio de manter a própria vida
uns realmente amam a pátria
uns doidos só a idolatram
de sonho intenso à terra de pouca esperança
a gigante natureza
um dia vívida
assassinada já não resplandece
mãe gentil sem futuro risonha e banguela diante do espelho
sem berço esplêndido
nem maca
morre deitada no chão do corredor
fulgurantes bosques de soja e fitossanitários
sem flores
sem amores
terra sem vida
trabalhadores sem a terra
ostentamos ódio vestindo camisas estreladas
passado sem glória
futuro sem verde
povo sem paz
filhos sem justiça
entre outras mil
terra amedrontada
pátria envergonhada
brasil
o povo heroico cada vez mais calado
o grito entalado
censurado
sol tem, liberdade nem tanto
penhor de igualdade não conquistamos
não vemos
nem comemos
só ouvimos falar
braços fortes em luta por liberdade agora em fuga
no peito o desafio de manter a própria vida
uns realmente amam a pátria
uns doidos só a idolatram
de sonho intenso à terra de pouca esperança
a gigante natureza
um dia vívida
assassinada já não resplandece
mãe gentil sem futuro risonha e banguela diante do espelho
sem berço esplêndido
nem maca
morre deitada no chão do corredor
fulgurantes bosques de soja e fitossanitários
sem flores
sem amores
terra sem vida
trabalhadores sem a terra
ostentamos ódio vestindo camisas estreladas
passado sem glória
futuro sem verde
povo sem paz
filhos sem justiça
entre outras mil
terra amedrontada
pátria envergonhada
brasil
ligeira
a esperta criança
ligeira campeã da dança da cadeira
hoje vence a adulta disputa:
privilegiada viaja sentada no vagão do trem
ligeira campeã da dança da cadeira
hoje vence a adulta disputa:
privilegiada viaja sentada no vagão do trem
haicai VI
semeio dentro
casa jardim deleite
mundo aflora
casa jardim deleite
mundo aflora
anjinho
para Arthur Araújo Lula da Silva
um anjinho perdeu suas asas
estava triste mas ainda era anjo
e ninguém lhe tirava a boniteza
mas vieram os homens maus
demônios caídos
e lhe arrancaram o coração
a luz de seus cachinhos foi ficando fraca fraquinha
mas homens maus não vencerão
e o anjinho foi viver com os bichos mais bonitos
os seus bichos preferidos
girafas
leões
macacos
e passarinhos
longe dos homens maus ele pôde voltar a brilhar
virou vaga-lume
o anjinho foi luzir em paz
estava triste mas ainda era anjo
e ninguém lhe tirava a boniteza
mas vieram os homens maus
demônios caídos
e lhe arrancaram o coração
a luz de seus cachinhos foi ficando fraca fraquinha
mas homens maus não vencerão
e o anjinho foi viver com os bichos mais bonitos
os seus bichos preferidos
girafas
leões
macacos
e passarinhos
longe dos homens maus ele pôde voltar a brilhar
virou vaga-lume
o anjinho foi luzir em paz
cumulus
à imaginação que não encontra atrito
rodopio
inconsequente coração quer dar pirueta
gozar de arrepio
se esquece, travesso
que relâmpagos podem partir de um céu azul
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thamires andradeé uma pessoa comum que escreve poesia por necessidade. é neta de cecília e neusa e tia do pedro e da lolô. adora os tropicalistas, principalmente tom zé, pitangas, dançar, fazer bolos, crianças pequenas, filmes dos trapalhões, gatos, andar de metrô, dias azuis e cheiro de chuva. leu mario quintana pela primeira vez aos 12 anos e nunca mais vai parar. é educadora com formação em psicologia e psicanálise, mas gostou mesmo é de ter feito um curso de clown.