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A criação de Deus, Tarde de palavras, Ontoteologia do poema e O segredo da vida, quatro poemas de Jorge Lucio de Campos

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Imagem de maio (1925), Paul Klee.









A criação de Deus

a Georges Bataille

Da mão do
homem vem

de tudo: o tiro
a facada

a traição − o
poema, a cura

a solução

Da mão do
homem só

não vem
(que pena)

 a sua conversão

em algo bom

Para isso
ele precisa

de um Deus
que não existe



In: Através (Bookess, 2014).







Tarde de palavras

Também a ela
me junto:

compor-me-ei
de céu



In: Através (Bookess, 2014).







Ontoteologia do poema

a Martin Heidegger

Deus é poesia
Não outra coisa −
mais que isso

Quem entende
sabe que é
sem nome:

o que resta
do rumo
da vida −

rosa
rima
ruído −

Deus é poesia



In: Através (Bookess, 2014).








O segredo da vida

a Isidore Ducasse

Bebo, adoeço
fumo, envelheço

Respiro, insisto
persisto, existo

Enquanto isso
um guarda-chuva

e uma máquina
de costura dão

as mãos e oram
numa mesa de

cirurgia



In: Através (Bookess, 2014).








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Jorge Lucio de Camposé poeta, ensaísta e professor da ESDI/UERJ. Publicou os ensaios Do simbólico ao virtual (1990), A vertigem da maneira (2002), A travessia difícil (2015), Lembretes filosóficos para jovens sábios (2017), O império do escárnio (2017) e as coletâneas Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996), À maneira negra (1997), Prática do azul (2009), Os nomes nômades (2014), Sob a lâmpada de quartzo (2014), Paisagem bárbara (2014), Através (2017), Véspera do rosto (2017), O triunfo dos dias (2018), A grande noite perdida (2018) e Desimagens (2018).

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