Fábio Fernandes, um dos autores mais importantes da ficção científica brasileira, lança Back in the USSR, provavelmente sua narrativa mais instigante.
O volume marca o início da Coleção Futuro Infinito, selo da Patuá dedicado à publicação de Ficção Científica Brasileira e que tem a curadoria de Luiz Bras.
Sinopse do livro
O sofisticado Método Frankenstein de Ressurreição®, desenvolvido pelo doutor Victor Frankenstein na Suíça, em 1794, e patenteado dez anos depois pela empresa alemã Ewigkeit, ou simplesmente a Empresa, mudou completamente o rumo da História de nossa civilização. Agora é possível ressuscitar qualquer falecido nas primeiras horas após sua morte, ou seja, antes do início da degeneração celular, preferencialmente antes do rigor mortis.
Utilizado em larga escala, o Método® beneficia praticamente todas as classes sociais. Reis, príncipes, magnatas, pop stars e também gente comum são ressuscitados cotidianamente. Só não são trazidas de volta à vida as pessoas que, por razões filosóficas ou religiosas, assinam previamente um termo proibindo a ressurreição. John Lennon é uma dessas pessoas. A ressurreição nunca lhe interessou.
Fazendo um uso inventivo do insólito, a história oficial é tomada como ponto de partida para um irreverente e cativante quebra-cabeça em que são postos na mesa do jogo a malandragem e a nossa ânsia pela imortalidade, o pop e o erudito, a antropofagia e o tropicalismo de nossas melhores vanguardas.
Fonte de consulta: https://ficcaocientificabrasileira.wordpress.com/
Minientrevista com Fábio Fernandes
1. 1. Retomando um famoso inquérito promovido por André Breton e Paul Éluard nos anos 1930: “É capaz de dizer qual foi o encontro capital da sua vida? Até que ponto esse encontro lhe deu, e lhe dá, a impressão de ser fortuito? ou necessário?”
Correndo o risco de ser ingênuo demais, acho que todo encontro é um encontro capital, ou pelo menos a maior parte deles ao longo de uma vida, desde que essa vida tenha sido bastante movimentada. Eu acho que tive sorte, pois tive alguns encontros capitais. Um deles foi na década de 1980, com meu professor de tradução, Daniel Brilhante de Brito, que me transmitiu o amor pelos idiomas, e o outro foi em 2013, com o escritor Samuel Delany, autor de um dos meus livros prediletos, Babel-17, e que, numa longa conversa analisando alguns contos meus, me forneceu insights preciosos que mudaram a minha maneira de encarar a escrita de ficção. Ambos foram necessários, porque haviam sido programados (eu me matriculei no curso do Daniel e passei na seleção da oficina literária Clarion West, em Seattle, onde conheci pessoalmente o Delany, que foi um dos instrutores). E ao mesmo tempo fortuitos, porque eu não fazia ideia de que me dariam tantas ideias e lições. Se eu morresse hoje, o meu epitáfio virtual (porque quero ser cremado) seria: “Por essa eu não esperava”.
2. 2. A literatura pode sair em direção à vida, talvez azeitando melhor a compreensão da máquina do mundo? Por que a ficção científica é necessária hoje?
Sim, eu acredito que a literatura pode e deve sair em direção à vida. O problema, contudo, está no código. Ler requer dois tipos de esforço, basicamente. O primeiro é conhecer bem o alfabeto e a gramática da língua a ser lida. O segundo, muito mais difícil, é ter capacidade de interpretação e reflexão. A literatura estende a mão ao leitor; mas o leitor precisa estender a dele também.
Isto dito, a ficção científica é necessária hoje porque aponta caminhos. Ela se passa em grande parte (mas não só) no futuro, mas o futuro não existe. O que existe é um eterno presente que usamos como fermento para deixar crescer uma massa (crítica) que vai dar em algo. Às vezes o bolo fica muito bom. Outras vezes desanda. A lição está em que tipo de ingredientes usar e sua proporção. A FC, parafraseando Oswald de Andrade (que escreveu ficção científica em sua peça O Homem e o Cavalo, de 1933), é a perfeita cozinheira das almas deste e de outros mundos.
3. 3. Em Back in the URSS, você diria que a literatura é uma possibilidade de reversão do passado? The Beatles têm mais poder que Deus, mas estão condenados a serem falsos profetas como já se disse de Isaac Asimov?
Mas Asimov é um falso profeta. Assim como William Gibson. Ou talvez pudéssemos dizer: escritores de ficção científica são profetas reversos, pois eles próprios ajudaram a moldar o futuro. Se não fosse por Asimov, não teríamos a robótica da maneira como a conhecemos hoje. No caso do Gibson, no mínimo a web não teria sido apelidada de ciberespaço. Então os Beatles ajudaram a moldar todo um mundo apenas por terem existido. Seja porque foram a primeira boy band realmente bem-sucedida do mundo, seja porque ajudaram a gerar muitas outras bandas, quase todas de qualidade duvidosa, como The Monkees nos EUA ou The Shakers no Uruguai (esta última tinha músicos ótimos, como Hugo Fattoruso, que inclusive tocou muito no Brasil, com Chico Buarque e Joyce), seja também porque sempre que algo interessante é gerado, ajuda a gerar outras coisas e pessoas. Quanta gente não se apaixonou num show dos Beatles, ou simplesmente ouvindo o som deles na vitrola, no toca-fitas ou no CD? Acho que o poder deles é mais concreto que o de qualquer divindade que (embora a ideia de deuses seja muito elegante) não sabemos mesmo se existe.
Agende:
Lançamento: 16 de março
Local: Patuscada Livraria Bar & Café
Informações: https://www.facebook.com/events/1531465973650122/
Lançamento: 16 de março
Local: Patuscada Livraria Bar & Café
Informações: https://www.facebook.com/events/1531465973650122/