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"como se ensaiasse monólogos para o espelho", poema de Guilherme Mateus

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Fotografia de Arno Rafael

como se ensaiasse monólogos para o espelho

1.

trâmites da alma
arabescos, clorofila
plumas pavonais
quero sair de mim, te digo
e digo forte
cada vez mais fundo
como se ensaia um prelúdio
uma entrada.
alma plana, escaldada
te digo que quero ainda,
palavras eclipsadas
se formando à boca
tua&minha
minha apenas.
riachos, enchentes
a alma sendo cria da lua
altiva, fina, hermética
deito a minha gêmea
à fronte dela
esperando espumas
em movimento de maré
me baterem à pedra oca
da compreensão.

2.

crua é a palavra.
move-te do esterco
baça lama de banhar
sintetiza a fome
a sede, alça
move-te do pano
onde deita a agonia
para que limpe
o fino náilon
de tua cruz.
te move da palavra
regrasmoldesclausuras
te despe
da dobradura
e rigidez,
da armadura gasta,
olhe a si
em direção contrária:
res, guarde.

3.

aguou as palavras
na boca
poucas, suficientes
que se saiba
pensou muito
em dizer tudo
se aos pedaços
ou inteiras
vej me n
ensaiava engolir
inundação e água
rente ao céu
ão e eja
temia ser ouvido
pensou o fim
o gênesis
silêncio, infinito, mudez
engoliu:
queria dizer
veja-me não me veja
aguou palavras
disse fragmentos
teve dilúvio.



____________
Guilherme Mateus: nascido em dezembro de 1994, potiguar, graduado em letras. desde cedo desfila pela escrita, a pintura e a fotografia como um escape – talvez uma tentativa de alcançar o outro e a si próprio. plural e singular: algo sutil e estranhamente harmônico entre o caos e o vazio.


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