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Tradução do poema "Giles Corey", de P. Scott Cunningham - por Lúcia Leão

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Foto: Gesi Schilling

Giles Corey
P. Scott Cunningham

Em Massachusetts fizeram uma pilha de pedras
para deitar uma a uma sobre o peito dele.
A cada pedra colocada, perguntavam,
como nos programas de jogos: Você confessa?  

Quando ele se recusou a responder, eles se irritaram
como policiais à paisana tirando as jaquetas.
Você entende o perigo, Giles?
Você sabe o quanto de pedras

Deus deu a esta cidade?  
Podemos fazer isso o dia todo, disseram,
e ao não dar resposta alguma, Giles os forçou a fazê-lo. 
Matá-lo era como estar em um jantar

em que o anfitrião se recusa a ir dormir.
As pessoas pedem licença para ir ao banheiro.
Sentem fome e encomendam comida. Dormitam e acordam
na luz suave da televisão. 

Depois de um dia e meio, ninguém se lembrava
da ordem exata em que as coisas aconteceram. Ninguém
pensou em registrar o que veio primeiro ou quem fez o quê.
O mundo começou a parecer uma pilha de coisas

em que elas tinham se metido por acaso.
Quem está faltando? Elas se perguntaram.
Somos seu criador ou seu instrumento?
No princípio não havia nada e Deus disse.  

Isso não basta, e depois havia
a pilha de pedras e embaixo delas Giles olhando para cima. 
Havia o céu sobre ele e logo
começou a mudar de cor – de marrom ao vermelho ficou preto.

Isso ele podia controlar piscando os olhos.
Cada respiro chegava como uma carta.
A cabeça dele se tornou um tipo de pedra. 
Mais peso, ele disse. 

Tradução: Lúcia Leão

* * *

Giles Corey


In Massachusetts they made a pile of stones
to lay one by one onto his chest.
With each stone they placed, they asked,
like game show hosts: Do you confess?

When he refused to respond, they got angry
like plainclothes cops taking off their jackets.
Do you understand the stakes, Giles?
Do you realize the wealth of stones

God has given to this township?
We can do this all day, they said.
and by not answering, Giles held them to it.
Killing him was like being at a dinner party

at which the host refuses to go to bed.
People excused themselves to go to the bathroom.
They got hungry and ordered out. They dozed off and woke up
inside the soft glow of the television.

After a day and a half, no one could remember
the right order in which things happened. No one
had thought to keep track of what went first, or who did what.
The world started to resemble  a pile of stuff

they’d floated into by accident.
Whose absence is this? They wondered.
Are we its creator or its instrument?
In the beginning there was nothing and God said.

That’s not enough, and then there was
the stone pile Giles looked up from under.
There was the sky above him and soon
it began to change colors – brown to red to black.

It was a thing he could control by blinking his eyes.
Every breath arrived like a letter.
His head had become a kind of stone.
More weight, he said.

(Published in Ya Te Veo)



*Giles Corey foi torturado e morreu por esmagadura por pedras durante o julgamento das “bruxas” de Salem, em Massachusetts, Estados Unidos, em 1692. 


_____________
P. Scott Cunninghamé autor de Ya Te Veo (University of Arkansas Press, 2018). Seus poemas, ensaios e traduções foram publicados na Harvard Review, POETRY, The Awl, A Public Space, RHINO, Los Angeles Review of Books, Tupelo Quarterly, Monocle, e no The Guardian, entre outros. Ele é fundador e diretor do Festival de Poesia de Miami – O, Miami Poetry Festival– e editor da Jai-Alai Books. Scott é formado pela Wesleyan University e mora em Miami, Flórida, com sua esposa, Christina, e sua filha, Ada.  


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