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ASTRONAUTA TUPY, POEMA DE ALEXANDRE GUARNIERI

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astronauta tupy nos ministérios do mistério



[...] A nave estremeceu, subiu de novo
Deixou um rastro de luz do meio-dia
Entrou de volta nas trevas
Foi buscar futuras levas
Pra conhecer o amor e a alegria/
A nave quando desceu, desceu no morro
Cheia de ET vestido de Orixá
Vieram pedir socorro
E se deram vez ao morro
Todo o universo vai sambar...

Lenine, “O dia em que faremos contato”, 1997




entre interplanetárias tertúlias
num jardim suspenso da babilônia
os cocares de tupã
( deus gordo e viscoso )
lançam raios ( laser ) “que os partam!”
e sagradas plumas em feixes
acima da lua vista
do calçadão de copacabana

ante a constelação de frutas típicas
cascas da banana nanica refazem as tangas
para cobrir-lhes a bunda na praia
das mais extravagantes sungas
& excêntricos exocets totêmicos ( a tribo inteira
grita: "calcinha preta! bigode grosso!"
ao som de pagode forró    funk coco
rap repente reggae do maracatu atômico )

avistadas do espaço sideral
as terras de hi-fi-brazil
prometem wi-figrátis
entre outras facilidades
reluzem ouro de tolo
gringos cobiçam nossa ginga
água minério de ferro
políticos dão nós
nas nossas tripas
que não são pra sarapatel
rios de lama invadem vales
pois que todo lixo tóxico
é vendido nos trópicos
como adubo “du bom”

óleo vaza dos dutos
lucro escorre aos tubos
os pulmões do globo
o idílico paraíso amazônico
corroído com produtos químicos
nossa selva desmatada a vera
bois de neon pastam
nas folhas da relva
desse agronegócio sem trégua

o foguete do primeiro astronauta brazuca
foi construído com partes de um velho fusca
seguindo à risca a ciência velocíssima
de joão do pulo e joaquim cruz
o para-choque à prova de balas perdidas
mesmo exposto ao sol a pino
não soltava as tiras, foguete porreta
sua frase de caminhoneiro
era "TUPY OR NOT TUPY"

ubiratans e tupinambás conquistariam
a corrida espacial do país do futuro
a pátria educadora
formaria astrofísicos aos borbotões
nos campos dos alfonsos e lançaria
de alcântara no maranhão
sob cooperação da ucrânia
o grande CYCLONE-KAIWOÁ-GUARANY
movido à etanol com esteróides

enquanto new beetles arrebitam
seus narizes empinados
inspirados no topete do Itamar
lábios de jagunços incham
quando o foguete é alçado à estratosfera
"o astronauta entre feras, neném,
sente a necessidade de também ser fera"
dizia o poeta"voar voar subir subir"/
"ao infinito e além ginsberg"e "nenhures,
 nem unzinho de nem nada nunca"
o brasil e o mundo ele observará de lá
pelas lentes do seu hubble-rayban
made in china or japan, vendido para a NASA
no camelódromo de Caruaru
e numa súbita lembrança da infância,
de norte a sul, o astronauta brazuca dança
melô, bowiecom bossa, rock com samba,
emblema de marechal hermes no elmo,
na TV, Major Tom como Capitão AZA

e no menuda nave nacional
só tapioca e cupuaçú
jabá com gerimum
ó catheringchic no estrangeiro, sô!
que aqui dentro é “pê-éfe” de pedreiro!
pratarraz de “pião” de obra, esse roda!
feijoada mocotó maniçoba
óleo de copaíba carne de sol
afinal, atravessar a via láctea
requer farinha de mandioca e biomassa
muqueca de cherne dendê acarajé
exigirá muita cachaça limão açúcar
e gelo lá da lua de plutão ébrio satélite
do barco bêbado de “rambô”
ao nosso próprio disco “vuadô”
todinho ele da zona franca de manaus
Ó ovni brasilis ave do paraíso
U.F.O. mais ufanista impossível
sonhar com viagens
da força expedicionária
interestelar brasileira
as tantas idas e vindas
do céu à terra e vice-versa
visitar cada nova esfera
como quem prova na barraca da feira
muita fruta estranha fresca madura
da manga à pitanga do cajá à uva
genipapo e urucum desenham na pele nua
do novo astronauta indígena
as linhas marajoaras
de uma outra moda interplanetária

para completar com axé e reza
cachimbada de preto “véio” rapé chá de erva
umbanda kardec promessa
fita no pulso de nosso senhor do bonfim
ebó pra exu da Bahia de todos os santos
porque pra atravessar
buraco do padre galáxia ou avenida
corpo fechado sinal da cruz guia
azar não haverá olho-gordo ingrisia
dê mais esse grito de RÁÁÁÁÁÁÁ
do mago chinfrim thomas green
vá na fé “mizifio”, meu neguinho
astronauta tupy, Pontes,
Marquinhos no Ministério?
macunaíma no exílio ( é sério?! )
leve consigo nossa idiossincrasia
nazifascista do evangelho de Javé
e não arrede pé de saturno, dos "ané"
bença, painho! bença, mainha! faz cafuné!?


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