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"asas para cair e vida para morrer" - poemas de Carvalho Filho

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Arte de Salvador Dalí

MISERANDO

Quando me falta rima
Não faço rima.
Quando me falta rima
Não faço rima.

A rima pode ser faca
A rima pode ser frouxa
A rima pode ser riso
Rímel risonha pancada

Não quero rimar
Não quero metrificar
Não quero ritmar
O que eu quero

O que eu realmente quero
É nada querer e tudo poder
Quero asas para cair
E vida para morrer

Quando me faltam rosas
Uso os espinhos da cerca
Arte de Argyle Plaids (Flickr)
BAGACEIRA OU DIABOS

A navalha ao pescoço faz tremer.
Desce elegante, ceifando a barba,
Tornando liso o chão de mato.
Se a mão erra, acerta a lâmina
O indefeso pescoço.
A vida é um barbear contínuo
E bem mais perigoso.
Arte de Amy Judd
BIRUTA

Um soneto macabro de asas negras
Uma nênia vagando pela campa

Certos mitos antigos pingam sangue
Os novos mitos se vestem com capa

Catorze versos são colunas jônicas
Elevando-se com justa beleza
"City of Drawers", de Salvador Dalí
 REDONDILHA DE IMPROVISO

Se fiquei tristonho
E me fiz tristeza,
Se fiquei cansado
E me fiz cansaço,
É que me contenta
Estar descontente
E não sorrir sempre
Que o mundo me fere.
Minhas rimas retas
Me deixaram torto,
Repleto de arestas;
Repleto de sonho.
Vez por outra rimo,
Vez por outra cismo.
Não me cabe rima
Melhor do que raiva.
Pois a raiva cava.
De improviso tento
Florir o momento.
Em tudo que vejo,
Porém, acho lágrimas.
Há tempos as asas
Estão recolhidas.
Arte de Mihai Criste
 Para não mais lamentar as horas comidas

Não me redijas um poema
Não me entregues tua bondade
Não me contes teus sonhos
Não me interessam teus tesouros
Não me apraz tua boa-vontade
Se antes eram cultos
Agora são curtos
Tu ofereces o melhor de ti
Mas o melhor de ti é coisa pouca
É coisa que se perde com o tempo
O melhor de ti alimenta a zombaria
Agora é tarde para aos céus subir
Mais vale cavares tua tumba
O joio e o trigo se abraçam
Se de fato és trigo pouco importa
Não me fales de coração
O coração é um moribundo sonhando vida


_______________
Carvalho Filho: Pseudônimo de Francisco das Chagas Souza Carvalho Filho, nascido em Parnaíba em 16 de outubro de 1988. Poeta e contista, colaborador do Jornal O Piagüi Culturalista. Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI. Ganhou em 2010 o concurso de poesia do 2º SALIPA-Salão do Livro de Parnaíba. Conta com artigos publicados na revista Desenredos. Participou das coletâneas Tratado Oculto do Horror (coletânea de contos) pela Andross, em 2016, e Carnavalhame(coletânea de crônicas e poemas) em formato e-book, 2017.E-mail: francisco.carvalho88@hotmail.com


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