Sylvia Queima
Vênus da alcova, Sílfide messalina
Viciada em adesivos de nicotina
Insone & neurastênica, dopada e deprimida
Permita-me lamber sua iconoclastia
Mariposa de danças noturnas
Fênix feérica, Noiva da Morte
Godiva
Camélia rubra,
jorrando seu perfume que asfixia.
Me põe nos lábios o vinho
docemente nínfico
Teus versos são belos crimes
Sinfonia de gozos e guizos
Teu punhal de palavras
Fogo que dança pelo meu corpo.
RUGIDOS
Sombras de beijos faíscam em minha nuca
Arquejos percorrem meu pescoço
Minha boca é um cóagulo lírico
Sutura que sangra poesia
Minha pele se emaranha em flamas
E o meu olhar se enlua
Sinfonia Imaginária
Ela põe um beijo fálico
Nas minhas têmporas de outrora.
Traz qualquer coisa de vertigem
Na epiderme do descontentamento cardíaco
Vejo esse vagido na madrugada :
é um demônio verde a levantar meu vestido.
Emudeçamos todo desassossego
Com amores dadaístas
Encharcados de absinto
Pairamos sob o mundo inimigo,
em metamorfose de gozo e xamanismo.
Está escrito no livro primeiro do Uivo que iluminou Buda:
minha vênus profética vulvando em teu falo que confabula
O inventário do tempo
Foi comungar no Cabaré Místico
É teu verso?
Delira-mo
Sem paletó de poeta pixote
derrama teu inaudito vinho de menino lírico.
Azulei para um verde em dó maior
Encontre-me aquém do verbo
Os ciganos esconderam a Loucura
no porta-seios da Musa
O pingente de gelo da Poetisa
Incendeia o céu de querubins
Sob o dossel do Silêncio
vejo-o enfim átomo
Infindo unido ao balé de meu delta
Os olhos do Sonho solfejam o delírio:
uma sinfonia imaginária para o amante metafísico.
RITO
Mordo a maçã
pura da Musa
Flerto com o olhar
fatal da Medusa
Depois me deito
no leito mais lírico
E me embriago
de Infinito.
Ascensão
A Noite encheu todo meu cálice
Com o bálsamo escuro das papoulas
Uma fragrância intoxicante
Passeia pelos jardins da luxúria
A Lua perfura meus olhos com nove espinhos
E veste-se com as anáguas da Aurora
Pequena gota de orvalho escarlate
Flor que se despedaça em verso
No instante efêmero
Entre a madrugada e o alvorecer
Fagulha que ferve o maior dos lagos.
Selvática
Morder a polpa da palavra
Violentar o verbo
Açoite
Até que o rubro escoe
Atingir o cerne
Com sabre, punhal
Lacerar o arco e a lira
Alvo metafísico
Colisão cáustica
Matilha sádica
Eu quero o aborto
Da aurora boreal
*palavra: Anna Apolinário
*imagem: Alberto Abate. Ecate Triforma,1987.
*seleção: Andréia Carvalho
Anna Apolinário, natural de João Pessoa, Paraíba, poetisa e pedagoga. Publicou Solfejo de Eros (Poesia, 2010, Câmara Brasileira de Jovens Escritores – Rio de Janeiro – RJ). Site.