The student of Prague (1983), Julian Schnabel.
[a Julian Schnabel]
Naquela casa em que
você escolheu ser livre
havia o nada do lado de fora.
Mas eu te disse: “o nada conta muito”.
E você me disse: “Deus é nada”
com os dedos espetando
as nuvens e o cabelos
soltos de raiva.
Mas você não fez isso.
Continuou obcecado
pelo mel das montanhas.
Com as mãos coladas
nas pedras, ameaçou
beber a espuma das ondas −
a corrente estranha e
solteira das ondas.
Ainda te vejo e voamos juntos.
Não sei se é o certo a fazer.
Ainda te voo e vemos juntos
e te descubro terrível, intenso
naquela casa onde só havia
o nada do lado de fora.
In: A grande noite perdida (Bookess, 2018).
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Jorge Lucio de Campos é poeta, ensaísta e professor da ESDI/UERJ. Publicou os ensaios Do simbólico ao virtual (1990), A vertigem da maneira (2002), A travessia difícil (2015), Lembretes filosóficos para jovens sábios (2017), O império do escárnio (2017) e as coletâneas Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996), À maneira negra (1997), Prática do azul (2009), Os nomes nômades (2014), Sob a lâmpada de quartzo (2014), Paisagem bárbara (2014), Através (2017), Véspera do rosto (2017), O triunfo dos dias (2018) e A grande noite perdida (2018).