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A SOLIDÃO SOU EU NO VENTRE DA MINHA MÃE _ 6 POEMAS DE RENAN CHIAPARINI

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Sentir

Sigo em versos
Lacônicos flutuando
Nas marés das lágrimas
De seus mares de água
Que açoitam meu
Rosto enferrujado pela
Química de seus estalares:
Do estômago ao cóccix
Do amor ao desapreço
Do compasso ao soluço e
Do nimbo ao cheio.

Eu vejo.

Suas mãos tocam o chão
Enquanto alguém conta uma história
Fantástica, e gesticula
E gasta a garganta
E arranha as têmporas
E quebra maxilares
E e e e e..., viva esses momentos
Meu amigo
Por favor, viva! Ouça o som do vento ao
movimento de descompasso dos braços
Coma as palavras que saem da boca
Deixe seus dedos tatearem
Historias em um livro
Sintam gastura
Beijem plânctons
Cantem onomatopeias
Que começam
Com lá
Com lã
Com nhã
Aproveitem de sua língua materna
E vivam intensamente cada
Hiato
Pois dessa vida
A gente só tira os sapatos
No fim do dia mesmo.





Ontem me deitei
e acordei em um domingo com uma ponta do lado
aos mais desavisados
a poesia foi essa






Você se lembra? Você se –
Lembra meu rapaz de
Quando você pegava sua bike
E pressionava os tornozelos
No pedal acelerando enquanto
O vento frio daquela tarde batia
Em seu rosto pois o inverno
Chegou e era só você e o mundo
Porque as andorinhas cacarejavam
O mar se punha e as estrelas eram
Policiais de milícias boas eeeeee cara, era tudo
Uma bagunça e só você era
Real você e aquele frio batendo
Em sua
Pele e rasgando a página da criança
Do ensino infantil com uma conta matemática
Dizendo “cê guenta mais opressão do
Que setenta? e a menina responde “cem Meus 20 no bolso não dá não.” E você pedalando naquele domingo frio
éra tu-
Do tão obvio, tão clássico que parece que
Alguém adicionou o som do g ou o j
Na palavra dia, porque é tudo tão
Tão simples tão tão in-
Terior
E você tem esperanças e fé de que o
Ponteiro da gasolina ande mais Que o ponteiro
Do pagamento um dia porque é tan-
Ta tanta fé e tanta crença nesse mundo que já
Já você voa nessa bike e entra em uma
Nuvem pesada quase azul e não sente
Nenhuma turbulência, e o mundo era todo seu
E era tudo tão nosso, tão tão nosso, você
Se lembra rapaz? Porque eu
Me lembro, eu me lenço, eu me lanço
Na vida hoje por esses dias
Por recordar esses dias
São esses
São esses
São esses dias que a
Gente tem que lembrar
Isso
Isso
São esses...
Ai ai
Coisa boa...






Nossos problemas
poderiam ser uma
foliculite apenas
daquelas que coçam o
couro cabe-
ludo
sem parar porque nossas adversi-
dades estao fodas cara...
Você acredita que as
professoras não podem mais amar seus
alunos?
E os professores não podem mais beijar
bundas de outros professores, só de profes-
soras mesmo é o fim dos tempos não é? Porque
no Egito a gente podia transar
sem pudor e agora é
isso
éssa putaria deslavada e assim
que arco iris que fica a fim
de sair depois de um dia
chuvoso antes do sol? Assim é
foda demais cara ah enfim que
vida é essa que
não se pode viver mais?





São Paulo
Eu vi um poeta branco
E uma
Bordadeira preta conversando e
Ele dis-
Se assim “queria fazer
Uma poesia com um ritmo de um
Surdo” e ela dis-
Se “ahahaha, esquece! Você
Não é Solano Trindade, e
Nem Akins Kintê” ent-
Ão o poeta disse “verdade, mas
E você pode fazer o que com
Esse seu ponto cruz?” e ela
Falou “fica olhando então”
E ai ela mexia aquela agulha como um
Deus bom cuida dos
Seres humanos e chiq chiq chiq chiq trançando uma lã grossa
E chiq chiq chiq chiq e ai começou a fazer bancos e avenidas e um
Monte de ocas enormes de andares e andares e fez um céu
Cinza que garoava e de repente pronto tava eu lá de calça
Em uma avenida grande e pããããããããããñnnnnn pããããããããnnnn
E os giroflex passavam a milhão e bla bla bla bla, e os saltos das moças
Tlec tlec tlec tlec e alguém se estrebuchava no chão e um
Cara se-gurou sua
Língua e a polícia olhava
Com a mão na arma e ai
Do outro lado um menino de 10 anos falava:
“doce! Bala! Pirulito, verdinho, seda. Tio, me arranja
Um cigarro desse?” e mais pannnnnnnnn e mais giroflex e
"Vai ter show
Hoje de graça no vão do
MASP", mas não pros mano
Do rap porque eles já tavam
Lá desde criança lá com o mic
Lá desde cedo rimando mas
Aquela estrutura toda não é pra eles
Não, e “poxa que livro massa, mas tô com grana
Só pra breja e pro busão, foi mal. Ai moleque, chega aí,
Quanto ta beck?” e flashs flashs flashs que não faz barulho e um
Mano tentava pular de skate um hidrante enquanto uma moça
Que tem um blog passava
E ela teve que parar de an-
Dar pra esperar o mo-
Leque pular e ele tentou
Tentou tentou tentou e uhhhh
Uhhhh quase quase e todo mundo
Parou pra bater palma pra ele
Porque ele não conseguiu e ahhh
São Paulo! eu sempre soube!
Eu sabia que era fácil te sentimentar sabe mas
Nem imaginava que sua
Mãe era
Uma preta
Borda-
Deira,






A solidão sou
eu no
ventre da minha
Mãe


Renan Chiaparini tem 28 anos é escritor, tem seu livro de poesias “1° ato” publicado pela editora Modo, joga dama xadrez e nunca serviu ao exército pois ao se alistar disse que não dava para abandonar sua mãe já velhinha de cama, atualmente sua mãe está bem, 41 anos, é Personal Trainer e super saudável. Está prestes a lançar seu mais novo romance: Dentre todas as pessoas, eu prefiro as putas.


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