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uma poética em 5 atos, de Carol Sanchez

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Foto de Kathy Buckalew, em aula com Harold Ross


poética dos fundos em cinco primeiros atos

guarde as pulsões da
idiossincrasia
para o diário
guarde porque são bonitas
generosas
e vão seguir modelando a sua volta
quando o futuro
for vazio de você

mas se há de publicar algo
se há de ser traduzido
se há de merecer o mundo um punhado acima
do umbigo
que seja apenas
para mudar o mundo

++++ ato um: então há a água ++++

a palavra o olhar
as pinceladas batucadas danças
partituras dos tipos
essas coisas todas que são
suas
não são absolutamente
coisas suas

a fagulha só existe
como princípio do fogo
minutos antes do incêndio

++++ ato dois: confrontamento de espelhos ++++

deixe as inocências
de lado
a arte pertence ao campo
das inutilidades

reivindiquemos, pois
o direito ao campo das
inutilidades
é com a linguagem que vamos continuar
no campo das inutilidades
abracemos, pois, o campo das mil e umas
inutilidades
só o que é inútil
não faz partido com guerras movimentos de ódio intersecção de ideais
só o que é inútil é capaz de mudar
o mundo

++++ ato três: primeiro exercício prático – peça gentilmente para a proporção áurea se retirar ++++

comece a trazer
tantos quadros na parede
quanto possíveis
tantas figuras de linguagem
com uma única palavra, arranque de
mansinho
os orgulhos de matizes, dissolva
na raíz
os lados de cá de lá do alto e baixo
o tudo que há sem tamanho todo
e que não caiba você eu
maíras ernestos iguais
pelo diferente iguais
pinceladas de bic
grafite
nas ruas
nos campos
nas redes
nas famílias
de balanço
desafiando a proporção áurea que bonito mesmo
é o imperfeito

++++ ato quatro: segundo exercício prático - olhar distante coração próximo ++++

a ancestralidade de nossos corpos
faz nada senão apontar
uma possível direção
assim também acontece
com os totens de shopping

++++ ato cinco: sua face luz bebe da sua face sombra ++++

aos poetas do vazio do
silêncio do
furdunço, aos poetas
tímidos alquímicos ou aos que gritam
em redes likes aplausos
aos que se consideram poetas e aos que
não se consideram poetas
saibam:
não existe poesia neutra
tímida
poesia de meta
o que há é o fundo sem
perspectiva de chão
há sobretudo há
o mergulho em si
o desejo de ser sombra
que a luz tem fome de oposto
oprimido-opressor
oitos-oitentas
poetas: saibam disso



++++ ato futuro: exercício de preparação para primeira etapa de entendimento da palavra coletivo ++++

______________
Carolina Conceição Sanches Lopes, conhecida como Carol Sanches, nasceu em Campinas em 1981. Mãe de duas meninas, vive um atual ainda será. Ainda será poeta. Ainda lançará livros. Ainda viverá na história da literatura brasileira. Redatora publicitária formada pela ESPM, possui pós-graduação em poéticas verbais pela USP. Recentemente, foi selecionada para participar do CLIPE – Curso Livre de Preparação do Escritor – da Casa das Rosas, São Paulo. Tem dificuldade de colocar os pés no chão e a poesia é a sua companheira concreta, por onde deixa vazar as interpretações do mundo há mais de 15 anos.


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